Djamila Ribeiro

Mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais.

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Votarei em Lula e Haddad após quatro anos de absurdo e desrespeito

Nesta semana, o Brasil tem a chance de derrotar o bolsonarismo nas urnas e encerrar um ciclo de irresponsabilidades

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É chegada a hora de uma das eleições mais decisivas de que temos notícia. Finalmente, quatro anos depois, a população brasileira e, especificamente, a população paulistana têm a chance de começar a reparar o estrago feito em 2018, quando a extrema direita foi eleita para a maioria dos cargos do país.

Nas últimas eleições, o principal candidato à Presidência, líder nas pesquisas, foi afastado sem justa causa, o que abriu passagem para a eleição do atual presidente, o mesmo que, no seu primeiro ato, nomeou o juiz responsável pelo afastamento ao cargo de ministro da Justiça.

Embora o partidarismo do juiz fosse denunciado por boa parte da intelectualidade brasileira, uma parte considerável da imprensa e parte ainda maior do Poder Judiciário preferiram fechar os olhos e repetir à exaustão a frase de que as instituições estariam funcionando normalmente.

Na ilustração está localizada uma urna eletrônica ao centro, com uma mão votando. A mão é de uma pessoa negra, tem unhas vermelhas e manga de blusa lilás.
Ilustração de Aline Bispo para coluna de Djamila Ribeiro - Aline Bispo

Não, não estavam. Aliás, há já algum tempo que não funcionavam, como a Lava Jato veio a comprovar. Já escrevi bastante sobre isso, então quero na verdade me estender sobre os episódios recentes envolvendo Roberto Jefferson, que disparou tiros e granadas contra a Polícia Federal —que posteriormente veio a recebê-lo com pompas e sorrisos. Esse episódio nos faz voltar um pouco mais no tempo para entender o processo de deterioração das instituições.

As pessoas mais jovens provavelmente não vão se lembrar do mensalão, mas foi esse cidadão armado, que a esta Folha concedeu uma entrevista, que deu início a um caso de laboratório para a Lava Jato, anos depois. A Lava Jato elevou o método do mensalão às últimas consequências, mas ambos os casos visaram a glorificação de juízes em busca de todos os holofotes. Juízes que perseguiram e criminalizaram o Partido dos Trabalhadores, inflando acusações e penas para atingir alvos específicos, enquanto se serviam como heróis nacionais em revistas e jornais da classe média.

Os fantasmas são espíritos errantes que vagam pela Terra enquanto não resolvem suas histórias, nos contam as lendas. E Grada Kilomba, como já escrevi, trouxe-me ricas contribuições quando pensou o colonialismo por meio da metáfora fantasmagórica. Nesse sentido, enquanto o Brasil não resolver seus fantasmas como deveria, seus reflexos seguirão nos assombrando e impedindo o crescimento do país.

O que é a sobrevida de Roberto Jefferson na política, senão um fantasma do mensalão? O que seria a eleição de Bolsonaro, senão um fantasma da Lava Jato? Processos que, a partir da suspeita da prática de um crime, construíram uma estrutura de alavancagem de candidaturas reacionárias —e de destruição das estruturas internas e da imagem externa do maior partido de esquerda da América Latina.

Esse mesmo projeto condenou algumas pessoas culpadas por seus crimes, mas na verdade visou e condenou muito mais dirigentes partidários inocentes dos crimes que lhes foram imputados, destruindo não apenas suas reputações, como também suas vidas e a vida de suas famílias.

O que estou escrevendo pode parecer novo ou até mesmo revoltante para muitas pessoas que desconhecem o tema ou não concordam com o que está sendo escrito. Mas certamente não é novidade para muitas pessoas que percebem essa estrutura e, mesmo assim, buscaram tirar vantagem da ascensão autoritária vinda com esses projetos de poder.

Muitas e muitos jornalistas sabiam que o juiz da Lava Jato não era um profissional isento, que o processo do tríplex não tinha provas, mas preferiram mesmo assim seguir incensando o arbítrio.

Bom, conseguiram o que buscaram: o circo pegou fogo. Dilma Rousseff, a única mulher eleita presidente na história, sofreu impeachment sem cometimento de crime de responsabilidade. A cada dia que passa, o atual presidente e seus filhos aumentam a escala do absurdo. Seu afastamento parece uma piada de mau gosto ainda maior. A Lava Jato cumpriu o seu papel político de impedir a candidatura de Lula em 2018 e vivemos quatro anos de imenso absurdo e desrespeito. Anos de deterioração da imagem do país no exterior, de retirada de direitos e de venda de patrimônios nacionais a conglomerados estrangeiros a toque de caixa.

Nesta semana, o Brasil tem a chance de despachar esses fantasmas. Derrotar o bolsonarismo nas urnas e encerrar um ciclo de irresponsabilidades de setores do país. Derrotar Bolsonaro é também derrotar o projeto de milícia que busca se eleger em São Paulo. Contra isso, a resistência que segue em curso no país, apesar de tudo, vai às urnas. Por Lula e Haddad. Por esperanças de dias melhores.

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