A tormenta das eleições ficou para trás, mas o clima de suspense permanece no setor de esportes do país, que luta contra seus demônios. O principal deles, não há dúvida, é a captação de verbas públicas, que andou para trás após a Olimpíada de 2016 e pode piorar ainda mais.
O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) ainda não apresentou um projeto definitivo para a área de esportes. Sabe-se, no entanto, que o futuro governo pretende promover uma reestruturação organizacional, sendo enorme a possibilidade da atual pasta de Esportes virar uma secretaria em outro ministério, provavelmente o da Educação.
Uma mudança desse tipo é evidência de perda. O tema começou a ser abordado aqui anteriormente sob o título “Corrida presidencial aumenta suspense para o esporte brasileiro”. Superada a onda eleitoral, a indefinição e a falta de informações sobre a política de esportes a ser adotada pelo novo governo só faz aumentar a inquietude no setor.
O militar Bolsonaro tem alguma intimidade com esportes. Estudou educação física e torce pelo Palmeiras e pelo Botafogo, conforme revelado por ele em entrevistas. Apesar de ter olhos para o setor, pouco foi divulgado sobre como ele, de fato, enxerga esse campo.
A julgar pelas informações de mídia, o capitão parece propenso a atrelar os esportes como um braço da educação e dos cuidados com a saúde da população. No programa Saúde da Família seriam escalados profissionais de educação física para ativar academias ao ar livre no combate ao sedentarismo, obesidade, AVC e infarto do miocárdio.
Integrantes do futuro governo estudam a melhor fórmula para repassar recursos diretamente a estados e municípios, sem intermediação de qualquer natureza, para projetos esportivos e sociais.
O deputado Onyx Lorenzoni (DEM), que já foi anunciado como ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, destacou em entrevista que a outra vertente esportiva, a do alto rendimento --esportes praticados em nível elevado, notadamente os das disputas olímpicas--, exige planejamento mais abrangente. Em outras palavras, o significado disso é que tal prática necessita de fortes investimentos.
Isto posto, a questão bate de frente com as dificuldades enfrentadas pelo Brasil na área econômica. Prioridades alardeadas pelo futuro governo são básicas, entre as quais saúde, segurança pública, educação e reformas, em especial a da Previdência. Como arrumar verbas para investir no esporte?
Além disso, as empresas estatais, que serviram de fonte de recursos para os esportes na última década e até a Olimpíada do Rio, reduziram gastos por causa da crise. E o quadro pode piorar, pois o setor deve ficar mais estrangulado se o novo governo reduzir o número de estatais.
Um dos principais assessores de Bolsonaro, o general Augusto Heleno, que chegou a ser cogitado para vice do capitão e agora está cotado para ministro da Defesa, já transitou e ganhou experiência no mundo dos esportes. Ele pode ajudar na missão.
Depois da sua transferência para a reserva, Augusto Heleno exerceu por vários anos o cargo de diretor de comunicação e educação do COB (Comitê Olímpico do Brasil), entidade então comandada por Carlos Arthur Nuzman, que ocupou o posto por mais de duas décadas até sua prisão (depois foi solto) e renúncia, pressionado pelas suspeitas de ter participado da compra de votos (que ele nega) para a escolha do Rio como sede da Olimpíada.
O novo governo será empossado em 1º de janeiro. Em meados do ano, o Brasil participará do Pan de Lima, no Peru, disputa com oferta de inúmeras vagas em várias modalidades para a Olimpíada de Tóquio, em 2020. Ambos são eventos relevantes do esporte mundial.
O Brasil gastou fortunas na organização das Copas das Confederações-13 e do Mundo-14 e na Olimpíada-16. Agora, a escassez de verbas castiga os esportes, os atletas e a cartolagem. Os tempos estão mais tenebrosos, e os esportes flutuam como birutas de aeroporto, esperando pelos ventos, na incerteza se virão.
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