Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Edgard Alves

Mundial do Qatar alivia ano de escândalos na ginástica artística

Esporte vai mostrar seu novo astral a partir desta quinta em Doha

Ex-técnico da seleção brasileira de ginástica artística, Fernando de Carvalho Lopes, é acusado de abuso sexual
Ex-técnico da seleção brasileira de ginástica artística, Fernando de Carvalho Lopes, é acusado de abuso sexual Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado - Marcos Oliveira/Agência Senado
Edgard Alves
São Paulo

A ginástica artística vai mostrar o seu novo astral a partir desta quinta (25) no Campeonato Mundial da modalidade, em Doha, no Qatar. Lá estarão reunidas as principais forças desse esporte, que nos últimos tempos frequentou manchetes provocadas por escândalos horrorosos de abusos sexuais.

Os Estados Unidos se transformaram no foco principal da crise, mas o Brasil também figurou no triste espetáculo. Havia anos, jovens ginastas --meninas e meninos-- vinham sofrendo abusos, que resultaram em investigações contra integrantes de comissões técnicas. As denúncias provocaram a queda da cúpula da federação da modalidade dos Estados Unidos.

O médico Larry Nassar, o mais notório criminoso denunciado por atletas daquela entidade norte-americana, foi condenado a mais de 300 anos de prisão, somadas três penas.

Durante 22 anos, período finalizado em 2016, Nassar exerceu a profissão na USA Gymnastics (federação americana de ginástica), no USOC (Comitê Olímpico norte-americano) e na MSU (Universidade do Estado de Michigan).

No Brasil, o técnico Fernando de Carvalho Lopes foi acusado por supostamente ter cometido crime sexual contra atletas sob seu comando. Ele trabalhou com a seleção olímpica masculina e na formação de atletas no Mesc (Movimento de Expansão Social Católica), de São Bernardo do Campo. Responde a inquérito, mas negou as acusações. Ele foi afastado da seleção em 2016, pouco antes da Olimpíada do Rio, após denúncia de um menor de idade.

Outro técnico, Marcos Goto --responsável pela preparação de Arthur Zanetti, primeiro brasileiro  a ganhar ouro na ginástica, em Londres-2012--, foi investigado porque um ginasta, de forma anônima, revelou que ele sabia dos malfeitos de Lopes e fazia chacota com atletas que teriam treinado sob as ordens deste último.

Goto, no entanto, acabou absolvido pelo Conselho de Ética do Comitê Olímpico do Brasil, no primeiro julgamento do órgão, criado em março último. A CBG (Confederação Brasileira de Ginástica) também acabou isenta das suspeitas de omissão porque os casos denunciados ocorreram antes da instalação do Conselho, ocorrida em março último, e o órgão só ter jurisdição apenas após a sua criação.

O COI (Comitê Olímpico Internacional) negou qualquer responsabilidade em relação aos escândalos, alegando que os comitês nacionais é que colocam os atletas na Olimpíada. Mostrou indignação e repulsa pelos crimes e abriu canais para receber denúncias.

Seu presidente, Thomas Bach, elogiou a coragem das dezenas de vítimas que testemunharam contra os agressores. Nos Jogos Olímpicos de Inverno, em fevereiro passado, na Coreia do Sul, o COI preparou quatro locais para dar suporte médico e psicológico às vítimas de assédio ou abuso sexual.

Faltando pouco menos de dois anos para a Olimpíada, o Mundial de Doha vai funcionar como um ponto de partida para Tóquio-2020. O evento oferece as primeiras vagas olímpicas por equipe, sendo três no feminino e três no masculino.

A CBG encara a competição com expectativa. Será  fundamental para o Brasil terminar entre os 24 primeiros países para garantir o direito de competir com um time completo no Mundial de 2019, quando será definida a maior parte das vagas olímpicas.

A CBG aponta que dos 12 atletas --seis no masculino e seis no feminino-- selecionados para competir em Doha, dez já disputaram finais de provas individuais em Mundiais ou Olimpíadas. Destacam-se Arthur Zanetti, Arthur Nory e Jade Barbosa.

O mundo da ginástica está limpo? Parece correto admitir essa ideia, mas nada custa manter a vigilância alerta, pronta para intervir, sem esperar pela reação dos atletas, a parte vulnerável e frágil nesse ultrajante tipo de jogo sujo e covarde.

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