Eduardo Sodré

Jornalista especializado no setor automotivo.

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Compartilhamento de carros elétricos fracassa em Paris

Altos custos com reparos e limpeza tornaram o negócio da Autolib insustentável

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A ideia parece perfeita: em vez de adquirir um carro que ficará parado a maior parte do tempo, opta-se pelo uso compartilhado. Melhor ainda: os veículos são elétricos. Esse é o conceito básico do Autolib e seus carrinhos franceses, que, apesar da simpatia que despertam, tornaram-se um fracasso enquanto negócio.

Os veículos circulam por Paris e seus arredores desde 2011. Há 100 mil usuários inscritos e cerca de 4.000 automóveis em 1.100 estações. 

É basicamente o mesmo esquema das bicicletas compartilhadas disponíveis na capital paulista. Porém, carros são mais complexos e caros que bicicletas.

Estações de recarga cinzas com a inscrição Autolib. São como pequenos postes, de mais ou menos um metro na calçada. Ao fundo, as traseiras dos carros elétricos estacionados pela rua
Estação de recarga da Autolib em Paris, na França - REUTERS

Vincent Bolloré, dono da empresa que administra o sistema, viu o negócio tornar-se insustentável. Os custos com reparos e limpeza são tão altos e frequentes que deterioram as contas.

Outras soluções modernas de mobilidade urbana passaram a disputar a atenção dos franceses, mas essa não é a principal questão.

O maior problema está na gênese humana e no seu talento em deteriorar o que é público. Se o carro é de todos, não é de ninguém. Perdem os franceses, principalmente os 270 funcionários envolvidos na operação do serviço.

Em 2016, durante a cobertura do Salão do Automóvel de Paris, havia um ponto do Autolib em frente ao hotel em que eu estava hospedado, em Montparnasse. A pintura prateada esmaecida ressaltava os anos de uso.

Pela janela, pude ver guardanapos deixados ali por algum usuário. Perguntei sobre o serviço a um funcionário do hotel, que relatou problemas com a limpeza. Motoristas e passageiros deixam guimbas de cigarro, restos de fast-food e outras porcarias a bordo.

A imprensa francesa relata casos de arrombamento por moradores de rua, que dormem nos veículos. Usuários de drogas também são passageiros constantes.

O contrato atual de concessão do serviço deveria ir até 2023 e lucrar o equivalente a R$ 250 milhões. Entretanto, a interrupção do serviço deixa uma dívida igualmente milionária. 

O contrato foi rescindido no fim de junho, e os carrinhos devem ser retirados das ruas de Paris até o fim deste mês.

Vincent Bolloré vai continuar investindo em mobilidade eletrificada, mas sem oferecer serviços públicos. Sua empresa produz baterias, setor que tende a crescer com a chegada de novos carros híbridos e elétricos

Não se sabe ainda se outra empresa terá coragem de assumir o projeto Autolib e fazê-lo ser rentável. 
Só há duas alternativas para isso: ou muda-se o sistema de compartilhamento, ou o ser humano muda.

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