O acordo comercial entre Mercosul e União Europeia traz dúvidas sobre o futuro de algumas fábricas de automóveis no Brasil. Quando tudo estiver definido, valerá a pena montar veículos de alto luxo no país?
O estímulo à produção local, com consequente geração de empregos, foi o ponto mais importante do programa de incentivo à indústria Inovar Auto, lançado no governo Dilma Rousseff e substituído pelo plano Rota 2030.
O modelo antigo surgiu no limite entre o melhor momento da indústria nacional, que batia seguidos recordes de produção, e a queda nas vendas ocorrida entre 2014 e 2016.
Havia sobretaxa e restrições por meio de cotas, decisões tomadas para inibir importadores e forçar a nacionalização.
Mercedes, BMW e Jaguar Land Rover começaram a construir carros no país em fábricas novas que ainda operam no regime CKD, método de produção em que a maior parte das peças vem de fora. É como importar o carro inteiro desmontado e encaixar as partes no país de destino.
O objetivo dessa manobra é garantir os incentivos fiscais e se livrar do imposto de importação. Entretanto, essa conta só fecha se houver bom volume no mercado interno para absorver a produção local. Se é para vender pouco, melhor importar o carro pronto sem ter de montar uma fábrica.
Atualmente, todas as marcas de luxo com unidades fabris nacionais têm capacidade ociosa. Juntas, não produzem nem um terço do que poderiam, e todas são europeias.
É uma pena, pois os carros montados aqui mantêm a mesma qualidade dos importados. Caso a crise não tivesse encolhido o mercado, é provável que mais operações fossem nacionalizadas, o que geraria empregos adicionais.
Mesmo que haja longo prazo de carência para que o acordo comercial entre em vigor, a indústria automotiva faz planejamentos pensando na década seguinte. Agora já decidem o que fazer com as fábricas nacionais que produzem pouco e, com a facilitação das importações via Europa, podem perder a razão de existir.
A saída está no caminho contrário: se as unidades fabris nacionais produzem com a mesma qualidade que as estrangeiras, surge a oportunidade, e a necessidade, de exportar para além das fronteiras da América do Sul.
A BMW já enviou carros aos EUA para atender demanda pontual pelo utilitário X1. Portanto, não é a qualidade do produto nacionalizado que impede sua chegada em mercados exigentes.
A resposta para a viabilidade das fábricas passa pela viabilidade do Brasil. Avanços logísticos, regras previsíveis (que não caiam nas concessões de incentivos sem retorno algum) e, enfim, uma reforma tributária podem mudar a cara da indústria automotiva nacional e adaptá-la ao futuro.
Sem isso, o acordo comercial resultará em fábricas fechadas e de nada vai adiantar o discurso pró-emprego de governos, sindicatos e associações de fabricantes ou importadores. Multinacionais pensam com a calculadora.
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