Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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O que seria uma MP virou uma profunda alteração no recrutamento de servidores

Governo levou um mês e meio para redigir a MP e quando ela veio à luz era outra coisa

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Em janeiro o governo descobriu que havia uma fila de 1,2 milhão de segurados do INSS à espera do pagamento de seus benefícios. Não tinham percebido, mas deixa pra lá.

Diante do problema, o presidente do INSS disse que “a seguir o atual fluxo, a atual produtividade do INSS, que tem demonstrado resultados positivos, sobretudo no último semestre de 2019, nós esperamos que nos próximos 6 meses a situação esteja absolutamente regularizada”. Parolagem. Quatro dias depois, no cercadinho do Alvorada, Jair Bolsonaro anunciou a contratação de sete mil militares da reserva para cuidar do caso. Eles começariam o serviço no final de janeiro. (Duas semanas depois caiu o presidente do INSS.)

O governo reagiu pelo piloto automático: Há um problema? Chamo os militares, anuncio um prazo e eles resolvem.

Para contratar, fosse lá quem fosse, seria necessário redigir uma medida provisória, coisa que pode ser feita numa tarde, desde que se saiba o que se quer. Janeiro acabou e fevereiro também. O governo levou um mês e meio para redigir a MP e quando ela veio à luz era outra coisa. Poderão ser contratados 8,2 mil servidores aposentados, civis ou militares. Além disso, servidores temporários poderão ser contratados para as filas dos INSS, ou para qualquer outra coisa.

Como disse o secretário do Trabalho, “criamos um mecanismo que é moderno, que o mundo inteiro já tem”. É moderno, mas o mundo inteiro não o tem. O que seria uma MP virou uma profunda alteração no recrutamento de servidores.

Ela poderia ter sido apresentada como o que é, abrindo um saudável debate. Feita com mão de gato, contaminou a proposta e mobilizou o sindicalismo do serviço público. A burocracia do Estado sabe cuidar dos seus interesses. Prova disso é que no INSS há um atendente para cada 3.100 segurados. Para a turma da previdência do serviço público há um atendente para cada quatro clientes, sem fila.

Giannotti

Está nas livrarias “Heidegger / Wittgenstein, Confrontos” do filósofo José Arthur Giannotti. Foram quatro anos de trabalho diário, das 8h da manhã às 4h da tarde. Numa época de debates rasteiros, Giannotti produziu uma daquelas obras que engrandecem a condição de intelectual. Apesar da prosa elegante, é um livro de leitura tão difícil como a pronúncia dos nomes dos filósofos

Martin Heidegger e Ludwig Wittgenstein. Um, alemão, nazista e reitor da Universidade de Freiburg. O outro, austríaco, nascido em família de fortuna, lecionou em Cambridge.

Rindo, Giannotti estima que talvez tenha cem leitores. Ele lidou com o nazismo de Heidegger com o distanciamento de um filósofo e a combatividade de um liberal. Fruiu “sua genialidade” e arrematou: “Durante a desnazificação, teve sua atividade de professor suspensa por um breve período: eu preferiria que tivesse sido obrigado a fazer visitas periódicas a Auschwitz”.

Leia mais textos da coluna de Elio Gaspari deste domingo (8):

O golpe do IRB, um teste para a CVM

Eremildo, o idiota, acha que Bolsonaro deveria transferir a comunicação para comediante

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