No seu discurso inaugural no Podemos, Moro disse que, "se necessário, eu lutaria sozinho pelo Brasil e pela Justiça, seria Davi contra Golias". Esse bordão também é gasto.
Ninguém se oferece para o papel de Golias, mas o juiz da Lava Jato já viveu os dois papéis.
Como Davi, de sua vara de Curitiba, emparedou grandes empresários e um ex-presidente da República.
Como condestável da Operação Lava Jato, virou Golias: achou que podia tudo, interferiu no resultado da eleição de 2018 e acabou marcado como juiz parcial pelo Supremo. Foi abatido pela funda dos advogados de defesa de Lula.
O futuro do profeta
No seu discurso de filiação ao Podemos, Sergio Moro repisou o bordão do "Brasil, país do futuro". Esse é um lugar-comum da retórica nacional. Noves fora o fato de que o futuro pode ser oferecido todo dia, sem custo ou compromisso, há um mau olhado no bordão.
Em 1941 o escritor austríaco Stefan Zweig publicou seu famoso livro "Brasil, Um País do Futuro". Ele não deve ter sido a primeira pessoa a qualificar Pindorama dessa maneira, mas popularizou a ideia.
Zweig era um escritor festejado e, em 1934, um ano depois da ascensão de Hitler ao poder, ele deixou a Alemanha e vagou pelo mundo. Depois de vir para o Brasil pela terceira vez, estabeleceu-se com a mulher em Petrópolis (RJ). Na noite de 22 de fevereiro de 1942 os dois mataram-se. Ele tinha 60 anos.
Na nota que deixou, Zweig disse que havia aprendido "a amar mais este país e não gostaria de ter que reconstruir minha vida em outro lugar depois que o mundo da minha própria língua se afundou e se perdeu para mim, e minha pátria espiritual, a Europa, destruiu a si própria. (...) Deixo saudações a todos os meus amigos: talvez vivam para ver o nascer do sol depois desta longa noite. Eu, mais impaciente, vou embora antes deles."
A noite era pesada, a Solução Final do extermínio de judeus tinha sido posta em movimento, mas os Estados Unidos haviam entrado na guerra, os alemães haviam sido parados às portas de Moscou e o Brasil rompera relações com Berlim e Roma.
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