Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Lula quer mudar o mundo

Falta olhar para as encrencas nacionais

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Lula viajou pelos sete mares propondo uma nova governança mundial para o meio ambiente, a reforma do Conselho de Segurança da ONU e novas moedas para as transações internacionais. Tudo muito bonito, mas quando ele voltar ao Planalto, terá um país onde coisas mais imediatas e graves estão queimando nas panelas.

1) O Supremo Tribunal Federal e o Congresso estão em curso de colisão com temas como o aborto e a demarcação de terras indígenas.

2) A base de apoio parlamentar do governo virou uma paçoca, com o centrão pedindo a entrega a Caixa Econômica de "porteira fechada". Ou ainda o loteamento da Funasa.

3) A segurança pública nacional está acuada entre a anomia e a selvageria. De um lado, o crime tornou-se um poder paralelo na Amazônia. De outro, a Bahia tornou-se campeã nas estatísticas de letalidade policial. De lá, vêm as notícias de que foram mortos "nove suspeitos" numa operação contra traficantes realizada na periferia de Salvador. O que vem a ser um "suspeito" morto? Essa figura pertencia à necropolítica do Rio de Janeiro. A Bahia tem governos petistas desde 2007. Um de seus ex-governadores é o atual chefe da Casa Civil, outro lidera a bancada do governo no Senado.

Homem branco, de cabelo e barba branca, sorri e olha para a direita. Ele usa terno cinza.
Lula durante reunião no Palácio do Planalto - Adriano Machado-22.set.23/Reuters

Nenhuma dessas mazelas foi criada pelos petistas. Todas caíram nas suas costas e, enquanto não vem a reforma do Conselho de Segurança da ONU, há uma visível paralisia do governo para lidar com os problemas.

Não se pode pedir a Volodimir Zelenski que negocie o acervo da Caixa Econômica com o doutor Arthur Lira. Também não se pode pedir a Joe Biden que arbitre as relações do Congresso com o Supremo Tribunal. Lula é quem precisa entrar em agendas nas quais parece estar ausente.

Lula elegeu-se com uma pequena diferença de votos (1,8 ponto percentual) mas é o exclusivo mandatário do Poder Executivo. Num contrapeso, assumiu com um Congresso à sua direita. No Chile, o choque de realidade obrigou o presidente Gabriel Boric a reequilibrar suas metas. No Brasil, essa busca está emperrada alimentando-se de realidades paralelas como a do déficit zero em 2024 enquanto na vida real fechou-se agosto de 2023 com um rombo de R$ 104,6 bilhões.

No primeiro consulado petista, aquilo que pareciam ser pequenas dificuldades ou ainda dificuldades alheias desembocou numa crise. Faltou a percepção de que o governo precisa conversar ouvindo o outro. O Supremo Tribunal que manteve Lula preso foi o mesmo que anulou suas condenações.

À primeira vista, faltaria ao governo um coordenador político. Se o problema estivesse na falta de uma pessoa, seria fácil de resolver, mas o que falta é propósito. Ele existiu durante a campanha eleitoral, quando Lula apresentou-se como um fator de pacificação e novas ideias. Do candidato restou pouca coisa.

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