Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Descrição de chapéu guerra israel-hamas

O sucesso do resgate dos brasileiros em Israel

A FAB e o Itamaraty mostraram que o Brasil funciona

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Quem se lembra das trapalhadas ocorridas em 2020 para resgatar 34 brasileiros que estavam na China durante a pandemia de Covid e viu o resgate de centenas de pessoas que estavam em Israel em voos da Força Aérea pode perceber que o Brasil funciona.

Os aviões da FAB partiram para Israel e voltaram sem teatro. Poucos países conseguiram semelhante desempenho e nações vizinhas pediram ajuda ao governo brasileiro. Na quinta-feira, um dos aviões da Presidência da República entrou na operação.

A FAB e o Itamaraty funcionaram como um relógio, refletindo uma mudança ocorrida também no comportamento dos militares.

Primeiro avião da FAB que resgatou brasileiros em Israel chega a Brasília - Gabriela Biló - 11.out.23/Folhapress

Em 2020, os brasileiros eram apenas 34. Num primeiro momento a operação foi descartada, por cara. Quando ela foi autorizada, deu-se o seguinte, nas palavras de Luiz Henrique Mandetta, o ministro da Saúde que seria abatido pela obsessão do presidente Bolsonaro com a cloroquina:

"A operação foi montada para trazer 34 pessoas, mas foram usados quatro aviões e 120 pessoas para resgatá-las, um exagero. Eu disse aos militares que era prudente enviar o menor número de pessoas possível, mas mandaram gente do Exército até para filmar o resgate."

Num lance teatral, o resgate ganhou até um nome: "Regresso à Pátria Amada Brasil".

Os diplomatas que organizaram o resgate dos brasileiros que estavam em Israel e os tripulantes dos aviões fizeram seus serviços sem teatro. A operação superou inúmeras dificuldades logísticas e seu sucesso não teve exibicionismos.

O serviço continua, com novos voos e com a delicada negociação para resgatar pelo menos 22 brasileiros que estão em Gaza. O Brasil funcionou, pela ação de seus servidores civis e militares.

A verdade numa guerra

O presidente americano Joe Biden condenou o Hamas e acusou os terroristas de terem degolado crianças: "Eu nunca pensei que veria fotografias confirmadas de terroristas degolando crianças".

A fala de Biden foi impropriamente associada a uma notícia segundo a qual 40 bebês haviam sido degolados num kibutz. Ela nunca foi confirmada, mas Israel divulgou fotografias de bebês assassinados.

A sabedoria convencional ensina que, numa guerra, a primeira vítima é a verdade. A notícia dos 40 bebês degolados era falsa, mas o Hamas matou famílias e crianças.

Às vezes, a cautela contra o que pode ser um exagero acaba levando a um erro maior.

Para quem acha que não pode, alguns exemplos:

Em março de 1942, na Agência Judaica da Palestina, uma senhora polonesa contou a um funcionário o que estava acontecendo no seu país. O funcionário perguntou-lhe se ela não estava exagerando. Ela deu-lhe um bofetão e retirou-se. Anos depois ele seria um dos fundadores de Israel.

Nos Estados Unidos, uma amiga de Golda Meir decidiu publicar o relato das câmaras de gás numa página interna do boletim que ela editava. O New York Times publicou a notícia de um massacre na Lituânia em 17 linhas, no pé da página 5.

Em 1944, quando já se sabia a extensão do Holocausto, uma notícia do extermínio de judeus na Ucrânia saiu na página 6 do New York Times. Na primeira página, entre outros, havia um texto sobre os charutos cubanos.

(A decisão de exterminar sistematicamente os judeus foi tomada em janeiro de 1942, numa reunião em Berlim.)

O serpentário do Itamaraty

O serpentário do Itamaraty está excitado, apostando em intrigas para desfazer a dupla Mauro Vieira/Celso Amorim. É difícil que as futricas prosperem, por dois motivos.

Primeiro, porque Amorim, ex-chanceler e atual assessor especial de Lula, conviveu harmonicamente com o professor Marco Aurélio Garcia, que era o assessor de Lula nos seus primeiros mandatos.

Finalmente, porque o ministro Mauro Vieira é um diplomata com horror a holofote.

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