Fernando Ganem

Médico cardiologista, é diretor geral do Hospital Sírio-Libanês e coordena o programa de residência de clínica médica da instituição

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Qualidade na educação médica no Brasil

Espera-se que um curso médico tenha um corpo docente preparado e estrutura pedagógica de qualidade

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Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), o Brasil tinha em torno de 500 mil médicos em 2020, aproximadamente 350 escolas médicas, formando o equivalente a 10,4 novos médicos para cada 100 mil habitantes. Estes números são superiores a países como Estados Unidos (7,76), Japão (6,94) e Coréia do Sul (7,58). Dados detalhados foram publicados no excelente trabalho “Demografia Médica no Brasil 2020”, coordenado pelo Prof. Mário Sheffer (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Apesar do número elevado de profissionais, existe uma distribuição bastante desproporcional, com maior concentração em grandes metrópoles. A região Norte apresenta a relação de 1,3 médico por 1.000 habitantes, a menor do país, enquanto no Sudeste, esta relação é 3,15, a maior do Brasil.

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Médico durante procedimento cirúrgico - Yakobchuk Olena - stock.adobe.com

Entretanto, qual a qualidade da formação destes profissionais?

Espera-se que um curso médico tenha um corpo docente devidamente preparado, tanto para o ensino nas cadeiras básicas como para a prática clínica, estrutura pedagógica de qualidade, cenário de práticas com leitos públicos, hospital escola com mais de cem leitos e acompanhamento por equipe de estratégia da família. Dados publicados na “Radiografia das Escolas Médicas Brasileiras 2020” pelo CFM revelam que 94 instituições de ensino (26,6% de todas as faculdades) funcionam em 68 municípios que não atendem aos principais parâmetros. Cumpre ressaltar que na última década, em torno de 80% das vagas criadas foram em instituições privadas, com mensalidades que variam de R$ 5.000 a R$ 15.000.

Em avaliações internacionais, independentemente de qualquer crítica que se possa fazer aos modelos de segmentação por “rankings”, somente uma instituição de ensino brasileira, a Universidade de São Paulo (USP), figura entre as 100 melhores do mundo. Na América Latina, figuram além da USP a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O curso de graduação com duração de seis anos forma médicos generalistas bastante heterogêneos, que podem ir para o mercado de trabalho ou seguir para residência médica (RM), após concurso extremamente disputado. É comum os alunos graduados em medicina fazerem curso preparatório para passar na prova de residência. No Brasil há programas de RM em 55 especialidades, com duração de 2 a 5 anos. Trata-se da melhor forma de especialização em serviço, supervisionada por profissionais, em instituições credenciadas pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM).

Atualmente, o número de vagas de residência ainda é inferior ao número de egressos, mas muitos destes optam por não cursar a residência, o que pode se dar por vários motivos: desejo por ser generalista, incapacidade de ser aprovado na especialidade desejada e por questões financeiras. A bolsa para quem entra numa residência médica fica em torno de R$ 3.300 por mês, por 60 horas semanais, incluindo plantões.

Várias instituições estão credenciadas pelo CNRM para fornecer programa de RM. O Hospital Sírio-Libanês, por meio de seu Instituto de Ensino e Pesquisa, disponibiliza 147 vagas anualmente em 14 especialidades. Oferece ainda vagas em pós-graduação, mestrado e doutorado. Recebe acadêmicos de diversas faculdades do país e estuda a implantação de seu próprio curso de graduação.

Nós trabalhamos ativamente para melhorar o ensino da prática médica no Brasil. Mas precisamos ampliar esse movimento. Acredito que só conseguiremos melhorar o ensino médico quando todos os participantes dessa cadeia assumirem suas responsabilidades, em que educadores e instituições de ensino cumpram com o compromisso de fornecer conteúdo curricular de qualidade, em que alunos cobrem de suas instituições um ensino de excelência e em que entidades como CFM, Associação Médica Brasileira (AMB) e Ministério da Educação e Cultura (MEC) avaliem e fiscalizem com maior rigor o ensino médico no país.

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