Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Flávia Boggio
Descrição de chapéu

Tudo que resta a Bolsonaro é contar piadinha diante de seus mil dias de poder

Presidente até tenta falar de avanços feitos pelo seu governo, mas precisaria mentir no discurso

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O assessor chega ao gabinete do Palácio do Planalto para uma reunião. Encontra o presidente ainda na hora do almoço, terminando seu miojo.

“Vamos começar essa reunião daí. Preciso escrever um discurso para comemorar essa questão de mil dias de governo, taokey?”

“Sim, presidente.” O assessor pega a caneta para escrever na prancheta. “O que vossa excelência deseja falar?”

“Escreve aí as coisas boas do meu governo nisso daí.”

O assessor engole seco, mas disfarça. “Ótimo. Por qual delas o senhor deseja começar?”

“Escreve aí: ‘Nesses mil dias, nós acabamos com a corrupção no Brasil'...”

“É, bem, presidente, talvez seja melhor não falar sobre fim de corrupção. Sabe como é, com as rachadinhas, as denúncias de irregularidades na compra das vacinas, melhor não cutucar esse vespeiro.”

“Tem razão. Então fala aí que acabamos com o fantasma do comunismo...”

“Pois é, presidente, na verdade, sinto dizer que o senhor não foi quem acabou com o comunismo no Brasil, se é que ele existiu.”

“Como assim? Acabamos com o PT, que estava impondo uma ditadura marxista nisso daí.”

“O PT já não estava no governo quando o senhor assumiu. E eles foram bem capitalistas no governo. Não é melhor falar de outro assunto, não?”

“Então escreve aí que, nesses mil dias, criamos novas vagas de empregos...”

“Presidente, a taxa de desemprego também não está legal. Aliás, está o dobro da época da Dilma.”

“Então escreve aí que mantivemos aquela questão de ser liberal na economia, com o Paulo Guedes privatizando estatais...”

“É… Bem, presidente. Até agora não vendemos nenhuma empresa estatal. Aliás, foram criadas novas empresas públicas durante o governo.”

“Então escreve aí que os bons costumes da família foram mantidos.”

“É, presidente, talvez não seja bom falar de bons costumes e família, com sua família sendo investigada por... Manter alguns maus costumes.”

“Que a vida do brasileiro nunca esteve tão boa?”

Ilustração mostra um presidente em cima de um tronco de árvore pegando fogo
Publicada em 29 de setembro de 2021 - Galvão Bbertazzi

“A vida do brasileiro está bem ruim. Isso quando vive, porque chegamos a 600 mil mortes.”

“Então fala aí que o Brasil é um país lindo pra viajar.”

“Melhor não. A gasolina subiu 40%, não está dando nem para viajar para a esquina.”

“Tá difícil esse discurso aí. E se eu contar uma piada nisso daí?”

“Boa ideia. Que tal essa: A vida é como casamento; na pandemia acaba mais rápido.”

“Ótima piada. Tá pronto o discurso, taokey?”

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.