Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Flávia Boggio
Descrição de chapéu Natal

Reflexões sobre o significado do Natal, segundo a mãe de Jesus

Ter filhos me fez começar a refletir sobre o nascimento de Cristo pela situação de Maria, que teve que parir em um estábulo

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Faltam dois dias para o Natal. Entre decorações de shopping e discussões se o arroz deve ter passas ou não, muitos acabam se esquecendo do motivo da comemoração: o nascimento de Cristo.

Originalmente, tratava-se de uma celebração pagã para marcar o início do inverno, mas é uma outra história.

Confesso que também não pensava muito sobre o atual tema da festa, até que tive filhos. Mas minhas reflexões sobre o nascimento de Jesus são, também, pela situação da mãe dele.

Na ilustração de Galvão Bertazzi temos José segurando o menino Jesua no colo, ao lado dos Três Reis Magos. Todos observam assombrados a Virgem Maria, que dorme e descansa deitada na mangedoura. Ao lado deles temos uma vaca e um bezerro, dois porcos, uma galinha e um jumento usando a faixa presidencial brasileira.
Ilustração de Galvão Bertazzi para coluna de Flávia Boggio - Galvão Bertazzi

O final da gravidez não é fácil para a maioria mulher. Nosso corpo dói da testa ao dedão do pé, temos hemorroidas e urinamos, em média, 98 vezes por dia.

Pelas barbas do Papai Noel, como deve ter sido difícil para Maria, com 41 semanas de gestação, andar mais de cem quilômetros pelas montanhas da Galileia. Isso sentada no lombo de um burrico.

Sem contar que seu marido se guiava usando uma estrela como GPS. Desde a antiguidade, os homens já se recusavam a pedir informações para as pessoas.

Imagino como foi complicado para a futura mãe do profeta ter que se aliviar em qualquer arbusto, no meio do deserto, em pleno ano 1 a.C. Ainda mais grávida, quando não é possível enxergar os pés e o centro de gravidade não existe.

Quando entrou em trabalho de parto, Maria tentou dormir em uma hospedaria, mas não tinha vaga. O dono do local disse para ela ter o bebê em uma manjedoura. Pela ameixa do manjar dos deuses, como alguém manda uma mulher parir em um estábulo? Provavelmente a vaca e a cabra do presépio eram mais humanas.

Sem contar que, depois do parto, três homens completamente estranhos aparecem, misteriosamente, trazendo presentes para o bebê. O sujeito que trouxe o ouro até foi generoso. Mas quem resolveu que incenso e mirra seriam presentes bacanas para um bebê? Ninguém sabe o quão insuportável é sentir o cheiro de um incenso no puerpério.

Está certo que Deus estava submetendo Maria a testes de fé. Mas, pelo amor da avó que dá meias de presentes, nem a mãe do cara mais famoso do mundo tinha direito a um parto confortável?

Se Ele foi capaz de engravidar uma mulher à distância, poderia ao menos providenciar um quartinho com colchão, fraldas e uma anestesia peridural. Talvez uma canja com torradas. Estava certo Chico Buarque, quando disse que "Deus é um cara gozador, adora brincadeira".

Enfim, feliz aniversário, Jesus. Feliz Natal, amigos.

Erramos: o texto foi alterado

O texto atribuía incorretamente os versos da canção "Partido Alto" a Caetano Veloso. O texto foi corrigido

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