Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Flávia Boggio
Descrição de chapéu Todas PIB

Tamanho de PIB não é documento

Para muitos jornais, o leitor não está pronto para sorrir e precisa sofrer um pouco mais

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Otimismo, crescimento econômico, picanha no churrasco. Após quatro anos sombrios, voltamos a viver um momento de otimismo no país e, aliviados, podemos voltar a usar a metáfora de gosto duvidoso pós-pandemia: o Brasil respira sem aparelhos.

Para muitos jornais, no entanto, o leitor não está pronto para sorrir. E precisa ver as boas notícias com um pouco de tristeza e sofrer um pouco mais.

Por mais que a situação do país esteja otimista, é preciso tirar uma lição negativa de tudo isso. Afinal, nunca se sabe quando as coisas vão piorar.

Na última sexta, o IBGE divulgou que o Produto Interno Bruto, o PIB, cresceu 2,9% no primeiro ano do governo Lula 3.

O desempenho é, aparentemente, um sinal de que a economia está em um bom caminho. Mas não para os principais jornais do país, que deram a notícia seguida de um "mas".

Na ilustração de Galvão Bertazzi temos um cenário muito colorido e alegre. Um chão de algodão doce, uma fonte que esguicha suco de groselha, um ursinho de pelúcia que caminha. Uma cachoeira de suco de uva e uma sereia sorridente. Doces espalhados por todos os cantos do cenário e um sol sorridente lá no alto, iluminando um mundo feliz e perfeito. No centro da ilustração, embaixo de um lindo arco íris, um senhor sem cores. Ele está bravo e enfurecido enquanto lê o jornal Falha de SP.
Ilustração de Galvão Bertazzi para coluna de Flávia Boggio de 7 de março de 2024 - Folhapress

"PIB cresce 2,9%, MAS estagna no 2º semestre", diz a Folha. "Brasil cresce 2,9%, MAS queda de investimento é alerta", diz O Globo. "PIB sobe 2,9%, MAS investimento cai e pode travar avanço maior", diz o Estadão.

Ainda no Estadão, o economista Alexandre Schwartsman fez um alerta. "Se o país continuar crescendo 3%, vai ter dificuldade com a inflação."

Não é de hoje que os principais jornais seguem a mesma receita do "tá bom, MAS tá ruim" quando a notícia não lhes agrada. Principalmente quando vem do governo Lula.

A fórmula é tão simples que não é difícil prever as próximas manchetes e chamadas.

Para os editores sem tempo para bolar manchetes, aí vão algumas prontas para usarem:

"PIB de Lula é maior do que o de Jair Bolsonaro, mas tamanho não é documento."

"Desemprego cai, mas brasileiro sofre muita com a falta de tempo livre."

"Carne está mais barata, mas nutricionistas alertam: ‘Comer carne pode fazer mal’."

"Preço da gasolina cai, o que faz o pobre poluir mais."

"Juros caem, mas agiotas sofrem com a perda de clientela."

"Primeira-dama adota gato abandonado, mas põe cortinas do Planalto em risco."

"Expectativa de vida aumenta, mas brasileiro tem que aturar mais idosos furando fila."

"Lula ganha Nobel da Paz, mas ainda faltam quatro para alcançarmos a Argentina."

"Gonzaguinha canta ‘viver e não ter a vergonha de ser feliz’, mas especialistas dizem que ser feliz é cafona."

Um péssimo dia a todos e que sejam infelizes.

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