Gabriel Kanner

Presidente do Instituto Brasil 200, é formado em relações internacionais na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

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União entre MBL e esquerda expõe incoerência moral e enfraquece terceira via

Ao se juntar a PSOL e PCdoB, movimento abre mão de qualquer princípio moral

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A semana passada foi agitada no mundo político. Após as manifestações do dia 7 de setembro, tivemos a nota do presidente Jair Bolsonaro restabelecendo o diálogo com o Supremo Tribunal Federal e as manifestações da “terceira via” no dia 12 de setembro.

A aliança improvável, porém previsível, entre MBL, Vem pra Rua e partidos de esquerda no último domingo foi um fracasso, mas traz uma importante reflexão sobre como a elasticidade exacerbada das convicções morais é, inevitavelmente, um tiro no pé.

Após se juntarem a Ciro Gomes, Tico Santa Cruz, UNE, PSOL, PCdoB e outros grupos de esquerda, qualquer justificativa do MBL de que estão contra Bolsonaro por se manterem “fiéis a seus princípios” fica absolutamente esvaziada e sem nenhuma credibilidade. Alguém que acredita no liberalismo e no conservadorismo jamais poderá se aliar a socialistas e sustentar que defende qualquer princípio com convicção. É uma incoerência completa.

Quero começar reconhecendo a ousadia do MBL em ter convocado essa manifestação. Obviamente era uma aposta extremamente arriscada, com pouquíssimas chances de sucesso.

Primeiro porque ela surgiu como uma manifestação da “terceira via”, com o slogan inicial “nem Lula, nem Bolsonaro”, quando nem sequer existe um projeto de candidatura para impulsionar este caminho. Sem nenhum nome para liderar esta construção, fica parecendo um projeto com a firmeza de um prego fincado na areia, o que não motiva ninguém a sair de casa.

Segundo porque, prevendo a baixa adesão, os organizadores tiveram que intensificar os apelos a partidos e influenciadores de esquerda para participarem e ajudarem na divulgação. Trocaram o “nem Lula, nem Bolsonaro” por apenas “fora Bolsonaro”, visando assegurar a presença de partidos comunistas como PSOL e PCdoB. Essa guinada à esquerda acabou afastando outros grupos de centro-direita, que podem até estar decepcionados com Bolsonaro e buscando uma alternativa, mas não a ponto de se juntar a grupos de extrema esquerda nas ruas.

Outro fato curioso é que o PT se recusou a participar, e os organizadores se lamentaram da “sabotagem petista”, que foi ventilada como uma das justificativas para a baixa adesão à manifestação.

Ao mesmo tempo em que entendo que o MBL, por ter começado a fazer oposição ao Bolsonaro ainda em 2019, começou a enxergar a aliança com a esquerda como uma forma de reconquistar espaço, fica claro que essa decisão sepultou qualquer respeito que eles ainda tinham entre pessoas que gostavam do movimento.

A elasticidade moral simplesmente foi longe demais no dia 12 de setembro. Até então, o posicionamento do MBL, apesar de exagerado, era justificável. O governo Bolsonaro, como qualquer outro, tem diversas falhas e erros passíveis de críticas. Portanto, virar oposição, após as brigas que tiveram com diversos membros do governo e com os filhos do presidente, era ao menos uma decisão de estratégia política compreensível. Ainda era possível justificar tal estratégia mantendo-se fiel a valores liberais e conservadores. Havia um mínimo de coesão no discurso.

No entanto, qualquer tentativa de justificar a oposição ao governo com base em princípios e valores foi por água abaixo neste último domingo. A mensagem ficou clara: para o MBL, Bolsonaro é um mal maior do que as ideias mais perversas e perigosas que existem na política, representadas por partidos como PCdoB e PSOL. Quem está disposto a andar lado a lado com grupos de extrema esquerda para tentar derrubar Bolsonaro, mostra que está disposto a qualquer contorcionismo moral para atingir seus objetivos.

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