Giovana Madalosso

Escritora, roteirista e uma das idealizadoras do movimento Um Grande Dia para as Escritoras.

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Minha visita ao templo caodaísta

O Vaticano dos caodaístas me impressionou mais do que o dos católicos

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Nos últimos anos, andei tomando uns sopapos da vida e, desde então, venho buscando alguma forma de fé. Ainda não consegui grandes avanços, sigo com dificuldade em me tornar teísta mas, ao menos, venho aprendendo alguma coisa.

Na viagem que acabei de fazer para o Vietnã, resolvi conhecer uma religião da qual, até botar os pés naquela terra, nunca tinha ouvido falar. Antes de ser pega pelos tímpanos, fui pega pelos olhos, ao ver a foto do maior e mais exuberante templo caodaísta do país, localizado em Tay Ninh, uma cidade pequena, perto da fronteira com o Camboja.

Me mandei para lá. O dia estava quente. A estrada tumultuada pelas motos que não desaparecem nem nos destinos mais ermos. Mas todo incômodo desapareceu quando vi o templo surgir à minha esquerda.

Pessoas sentadas no chão e enfileiradas no interior de um templo de teto alto e paredes decoradas
Templo caodaísta em Tay Ninh, no Vietnã - Giovana Madalosso/Arquivo Pessoal

"O Vaticano dos caodaístas" me impressionou mais do que o dos católicos, talvez por ter um estilo inclassificável, ao menos para mim. Uma fachada com traços de pagode em amarelo, rosa e azul. Um interior sustentado por colunas envolvidas por dragões coloridos. Teto azul com nuvens brancas. Na nave central, uma imensa esfera com a principal imagem desta fé: um olho aberto.

Este "olho divino" também está dentro de triângulos nas paredes laterais do templo. Está bordado nas roupas dos bispos. Segundo uma inscrição dos próprios caodaístas: "O olho representa o coração. Fonte de puros feixes de luz. Luz e espírito são um. Deus é o brilho do espírito".

Eu queria ver essa luz emanando dos vietnamitas que chegavam vestidos de branco para cerimônia das 12h. Há quatro por dia: 6h, 12h, 18h e meia-noite. Uma pena eu não estar lá para essa última, quando os diversos néons coloridos do templo se ace ndem. De qualquer forma, eu estava para a do sol a pino, e pedi para entrar.

Foi mais fácil do que eu imaginava. Nascido em 1926, no próprio Vietnã, o Cao Dai prega a tolerância religiosa. Mais do que isso: traz na sua própria essência essa tolerância, com um sincretismo de elementos confucionistas, taoístas, budistas e espíritas. E deixando claro que todas as religiões devem ser respeitadas, pois todas são uma manifestação legítima de Deus –ah, se toda doutrina fosse assim.

Não à toa, o caodaísmo vem crescendo entre os vietnamitas, sendo hoje uma das maiores religiões do país. Lá estava eu, entre as centenas de adeptos que então se sentavam no chão para logo entoar cânticos que, obviamente, não consegui entender.

Com meu olho bem aberto, tal qual o olho que me fitava da nave central, observei aqueles rostos durante toda a cerimônia. Não houve um minuto sequer de pregação, apenas uma tentativa de transcendência na repetição da melodia.

O motorista que nos levou até lá apontou para as poucas crianças que estavam no templo e disse que estavam ali porque queriam. Em seu país, em geral, cada integrante de cada família escolhe a crença que quer. Como na sua: ele, budista; a mulher, católica; a filha, caodaísta. E quase todos os caodaístas, vegetarianos, por conta do sofrimento animal.

Confesso que gostei. A única coisa que me perturbou nessa visita foi um painel, bem na entrada do templo. Ali descobri que o escritor Victor Hugo é considerado um santo por essa religião. Bem como Joana d’Arc e outras personalidades conhecidas, com as quais os médiuns caodaístas se comunicam. Não me pergunte o que acho disso: estou aprendendo a exercitar a minha tolerância.

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