Giovana Madalosso

Escritora, roteirista e uma das idealizadoras do movimento Um Grande Dia para as Escritoras.

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Giovana Madalosso
Descrição de chapéu Todas desigualdade de gênero

Pelo amor da Deusa, não faça homenagens usando a palavra 'Deusa'

Melhor que dar flores é oferecer igualdade salarial, hora extra bem paga e um ambiente de trabalho livre de assédio

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O dia 8 de março está chegando e as rosas já empalidecem só de imaginar a quantidade de cartões equivocados que terão que empunhar em suas hastes. Para sua homenagem não sair pela culatra, aqui vão algumas dicas.

Pelo amor da Deusa, não faça homenagens usando a palavra "Deusa". E muito menos "guerreira". A mulher só se torna guerreira porque tem um safado que não paga pensão alimentícia, porque tem outro safado que não ajuda a limpar a casa. Mulher não quer guerrear, quer viver em paz e, se possível, dormir oito horas por noite.

O dia é da mulher, não da sua mulher. Postar que "ela é a melhor mulher do mundo" não é das coisas mais simpáticas em um dia criado para todas.

"Damas" só existem no xadrez, e "princesas" só existem em monarquias decadentes e contos de fada. Favor atualizar o vocabulário para versão 2024.

Fotografia da escultura de um busto masculino com flores ao redor
O Dia da Mulher está chegando e as rosas já empalidecem só de imaginar a quantidade de cartões equivocados - Adobe Stock

Se você é pessoa jurídica: melhor do que dar flores é dar igualdade salarial. Flores são lindas, mas murcham. Salários justos inflam o ânimo e salvam mulheres de casamentos abusivos.

Sobre brindes: fuja de kits de unha e maquiagem como quem foge de substâncias radioativas. O que faz bem mesmo para a pele é hora extra bem paga, licença-maternidade respeitada e ambiente de trabalho livre de assédio —a tempo: será que o mundo precisa de mais canecas e copos térmicos?

Dia da Mulher não é dia de fazer fala mostrando o quanto você é legal com as mulheres. Por gentileza, passe logo esse microfone para elas.

O dia é da mulher, não das mães. Favor separar sujeito do útero.

Se você é uma liderança política: não dê discurso vazio. Dê menores índices de feminicídio.

Se você é do legislativo: não faça média, faça leis que acabem com a violência de gênero.

Se você apoia candidatos misóginos: nessa data seu rosto fica mais bonito com um batom de Superbonder.

Se você é uma marca que passou o ano todo objetificando a mulher e usando a sua beleza para vender cerveja ou qualquer outra coisa, saia de cena. E, se possível, não volte tão cedo.

Se você é daqueles que se pergunta por que não existe Dia Internacional do Homem, melhor se perguntar em voz baixa, bem baixinha, deixando o papo entre o Tico e o Teco.

"Nesse dia eu posso enviar sticker de flores desabrochando, ursinho abraçando coração, champanhe estourando, fogos de artifício, sol se pondo com frase poética?" Sim! O machismo mata, mas, até onde se sabe, a cafonice nunca fez nenhuma vítima e às vezes até faz bem para a alma.

Pensando bem: evite os stickers de champanhe e fogos de artifício. Os números relativos à violência de gênero no Brasil mostram que não há absolutamente nada a se comemorar.

Se você já antecipou os preparativos para o dia 8 e deu alguma gafe, tudo certo. Estamos aprendendo todos juntos e é sempre tempo de corrigir a rota. Ou de ficar quieto. Celebrar o Dia Internacional da Mulher sem apoiar o feminismo todos os dias pode soar como oportunismo ou ignorância. Nestes casos, meu amigo, o melhor mesmo é se esconder atrás de uma barba bem peluda e fingir que esqueceu a data.

Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com três meses de assinatura digital grátis

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