Guilherme Boulos

Professor, militante do MTST e do PSOL. Foi candidato à Presidência da República e à Prefeitura de São Paulo.

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Guilherme Boulos

As ruas falaram

Ir às ruas numa pandemia é medida extrema, resultado de situação extrema

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O último sábado foi um daqueles dias marcantes em que as ruas ecoam o sentimento do país. Um país em luto por mais de 460 mil vidas perdidas, massacrado pelo desemprego e a volta da fome, abatido pelos desmandos de um sociopata. O grito que estava entalado na garganta soou aos quatro ventos. Grito de dor e revolta. Mas também de esperança: um anúncio de que não aceitamos seguir sendo levados ao matadouro.

Ir às ruas numa pandemia é uma medida extrema, resultado de uma situação extrema. Quem esteve não foi por gosto. Bolsonaro não deixou alternativa. Assim como, ao cortar o auxílio emergencial, não deixou alternativa para milhões que se aglomeram dia a dia em ônibus lotados diante do dilema perverso entre o vírus e a fome.

A posição daqueles que, mesmo indignados com o genocídio, decidiram não participar das manifestações e levantar questionamentos sobre os riscos é legítima. Não é decisão fácil. Mas equiparar o que aconteceu no dia 29 com os desfiles negacionistas promovidos por Bolsonaro é ignorar os fatos. As pessoas estavam de máscara e houve esforço hercúleo dos organizadores em orientar o distanciamento, inclusive com equipes de voluntários de saúde nas manifestações.

A compreensão que orientou o movimento é que não há saída para a pandemia com Bolsonaro à frente do país. A ideia de que o caos sanitário está caminhando para o fim, e só então poderíamos nos manifestar contra o maior massacre do nosso povo desde a colonização, é ilusória. Estamos diante do risco de uma terceira onda. Se nada for feito, podemos ter uma quarta e outras até o fim de 2022. Enquanto persistirem o boicote à vacinação, a campanha de desinformação com remédios sem eficácia e o negacionismo, continuaremos morrendo aos milhares.

Lutar para tirar Bolsonaro do comando significa salvar vidas. Quantas mortes evitáveis teremos até 2022 se esperarmos passivamente até as eleições? As eleições são o momento de alternância democrática, assim como o impeachment é o instrumento para interromper os crimes de um governo.

Bolsonaro está no pior momento do mandato. É incapaz de apontar saídas para as crises sanitária e econômica, seu apoio social caiu a 25% e a CPI começa a pôr em xeque sua base fisiológica no parlamento. A mobilização de rua é o componente que faltava para abrir uma janela de oportunidade ao impeachment; para que o Brasil possa virar a página deste pesadelo e não sangrar até 2022.

Por isso, com responsabilidade em relação aos protocolos sanitários e com a convicção de que não temos outra saída, as manifestações devem continuar. Dia 29 poderá ficar marcado como um ponto de virada na luta para que o Brasil volte a respirar.

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