Começou nesta quinta, dia 17, a Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, uma das megafestas populares que acontecem em nosso país. O evento acontecerá até dia 27 deste mês e contará com várias shows de artistas sertanejos e muita propaganda do agronegócio brasileiro.
O que poucos sabem, no entanto, é que a história de Barretos tem uma íntima ligação com um comunista histórico brasileiro: Oscar Niemeyer. O gênio da arquitetura mundial projetou o estádio de rodeios em formato de ferradura onde até hoje é celebrada a festa.
Criada em 1956 por um grupo de jovens autointitulados Os Independentes, a Festa do Peão de Barretos foi realizada até o ano de 1984 no Recinto Paulo de Lima Correa, no centro da cidade, palco das memoráveis exposições de gado da região.
A partir de 1985, a festa passou a acontecer fora da cidade, numa área semirrural do município, sempre na segunda quinzena de agosto. A área tem mais de 2 milhões de metros quadrados de infraestrutura. Neste ano a organização espera que cerca de 900 mil pessoas passem pelo Parque do Peão, que recebeu obras de melhorias estimadas em R$ 10 milhões.
Para fazer a manutenção do parque são necessários cerca de 110 funcionários. O parque funciona durante o ano todo, conta com estacionamento para 10 mil veículos e é dividido em várias áreas, sendo estas as principais: Berrantão, Rancho do Peãozinho, Área de Camping, Rancho da Queima do Alho, Fazendinha e Hípica. O Estádio Polivalente de Rodeio, projetado por Oscar Niemeyer, tem capacidade para 35 mil pessoas sentadas e foi inaugurado em 1989.
Niemeyer não foi apenas o arquiteto da arena de Barretos. O comunista tornou-se parceiro dos organizadores sertanejos. Um de seus amigos íntimos era o ex-presidente da associação Os Independentes, Mussa Calil Neto, que formatou o atual espaço da festa durante seu mandato, entre 1984 e 1985.
Niemeyer enxergava no então presidente Mussa Calil Neto um líder do Brasil interiorano anticapitalista, como relatou em texto de 2009 sobre o encontro de 25 anos antes, publicado no site da associação Os Independentes: "Aquela manhã de 1984 trouxe ao nosso escritório um rapaz em torno dos trinta anos (...) Não sabia que armas tinha o rapaz, mas certamente tratava-se de um revolucionário. O rapaz queria que a cultura sertaneja disseminada no lombo de eqüinos e muares pelo Brasil afora tivesse um santuário em Barretos, para onde os descendentes e adeptos seguissem em romarias (...). Para isto servem os monumentos. Assim, assinamos com orgulho embaixo da implantação do Parque do Peão de Barretos".
O ex-presidente Mussa Calil tornou-se amigo da família Niemeyer. Um dos seus principais afetos era pelo neto de Niemeyer, Carlos Oscar, com quem fez várias cavalgadas distribuindo livros pelos interiores do Brasil: "Comecei no Centenário de Oscar Niemeyer, partindo de Goianá, a 40 km de Juiz de Fora, até Barretos. Em 18 dias percorremos 830 km, passamos por 25 bibliotecas públicas e escolas de 18 cidades", disse o neto sobre a expedição cultural realizada em 2007.
Niemeyer percebia a admiração de Mussa por líderes das esquerdas da época, como Lula, e das esquerdas históricas, como Luís Carlos Prestes. No texto de 2009, o centenário arquiteto via na festa de Barretos um sinal da agitação revolucionária que tanto sonhava: "Ao ouvirmos gritos retumbantes vindos do interior, percebemos que nossas margens não estão mais plácidas como antigamente, e nem tampouco dormem em berço esplêndido".
Em retribuição ao carinho despendido e mimos dados pelo barretense proeminente, Niemeyer presenteava Mussa com charutos cubanos que ganhava diretamente de Fidel Castro. E completou: "Ele merece. E sabe que a nossa revolução significa não apenas a busca da vida e da liberdade, mas a busca do saber e do compartilhar, colocando sempre estas máximas na humanização do que realiza. Foram três décadas de visitas e conversas amigáveis, o Mussa jamais deixou de ser o mesmo, mantém sempre a visão de um guerreiro socialista".
Depois de 25 anos da criação, o Parque do Peão foi batizado com o nome do amigo socialista de Niemeyer.
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