Helio Beltrão

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

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Trainees de ditadores

Black Lives Matter e Antifa querem revogar o capitalismo, mas receber muitos cheques

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No livro “Fahrenheit 451” (1953), o escritor Ray Bradbury descreve um futuro distópico no qual livros são proibidos e queimados pelo Corpo de Bombeiros. “Fahrenheit 451” é entendido geralmente como um alerta contra a censura estatal. Na verdade, a lição é bem mais profunda.

O capitão Beatty explica ao jovem Montag que a prática não partiu do governo: “Não houve decreto, declaração, censura, nada”. A decisão de que os livros representavam afrontas iniciou-se com os próprios cidadãos. Membros de distintas minorias passaram a rasgar uma página ou parágrafo que os ofendia. Chegou o dia em que os livros ficaram desmanchados pois sempre alguém estava ofendido.

“Você precisa entender que nossa civilização é tão vasta que não podemos permitir que as diversas minorias fiquem transtornadas e agitadas. Serenidade, Montag. Paz, Montag. É melhor incinerar”, esclarece o capitão.

Estamos caminhando sem perceber para a oclocracia, o regime no qual multidões impulsivas mobilizadas por discursos simplistas governam. As redes sociais são ambientes propícios a que se formem massas de indivíduos unidos em torno de ideologias adotadas por emoção, combustível para o ímpeto revolucionário.

Como descreveu Gustave Le Bon no fim do século 19, esses indivíduos sofrem uma profunda transformação psicológica, deixam de agir como indivíduos e se sacrificam em prol da sua massa de escolha.

Líderes políticos, hábeis comunicadores de ideias simplificadas, entram no processo manipulando as massas, bradando slogans de luta por justiça social ou liberdade, contra a desigualdade ou o racismo. No entanto, seus propósitos não costumam ser nobres, em geral visam poder e a adoção de seu projeto pessoal de cima para baixo.

O que se vê no Twitter é a turba efervescendo à espera do clima apropriado, cuja hora chegou neste 2020. Os peões mais extremistas partem à guerra nas ruas, espalhando destruição em nome do espírito de justiça.

Vale tudo pela ação revolucionária: invadir hospitais, vandalizar estátuas, saquear lojas, queimar igrejas, clamar pelo fechamento de instituições, tomar à força um trecho da cidade.

A morte de George Floyd acendeu os ânimos revolucionários, que buscam reinterpretar a história sob a ótica de “raça”, em uma estratégia hegeliana das tesouras dialéticas, contrapondo sua doutrina antirracista ao racismo.

A enorme maioria silenciosa é compelida a apoiar uma dessas doutrinas, entendidas como as únicas possíveis. Ambas, no entanto, adotam a suprema importância de “raça”. Os racistas creem na doutrina pseudocientífica de raças biológicas; os antirracistas, em um “racismo estrutural”, que impossibilita a prosperidade dos negros.

As pessoas de bom senso que rejeitam as lentes que enxergam o mundo pela cor de pele (a maioria) são chantageadas moralmente. Todos são compelidos a sinalizar virtude em posts em rede social.

A liderança da causa antirracista, no entanto, é autoritária. Black Lives Matter e Antifa prezam a coerção e querem revogar a propriedade privada, o capitalismo, mas receber muitos cheques.

O memorável episódio “The Drumhead”, da quarta temporada de “Star Trek: TNG”, exemplifica a estratégia de vender justiça social para empurrar autoritarismo. Em reação, o capitão Jean-Luc Picard comenta privadamente que “os vilões que torcem o bigode são fáceis de detectar; já os que se revestem de boas ações ficam camuflados; vigilância, sr. Worf, é o preço que devemos continuamente pagar”.

Muito cuidado com projetos de ditadores que há por aí. Com bigode ou sem...

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