Helio Beltrão

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

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Helio Beltrão

51 anos de uma péssima ideia

Teoria da Justiça de Rawls é um convite ao caos social

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Após cinco décadas da publicação da obra "Uma Teoria da Justiça" ("TJ"), a influência de John Rawls permanece, lamentavelmente, incontestável, tanto em filosofia política como no Direito.

Rawls sugere um ordenamento jurídico (a "estrutura básica") que suprime ou relativiza o direito de propriedade, baluarte da civilização ocidental. Para muitos, a ausência da propriedade privada produtiva entre os esparsos direitos fundamentais desprestigia seu conceito de "justiça como fairness".

Rawls adota linguagem e terminologia vagas e imprecisas. Sua ambiguidade permite que adeptos de distintas filosofias políticas a considerem a doutrina rawlsiana compatível com a sua própria, principalmente se interpretada com excesso de boa vontade.

Foto de arquivo de março de 1990 do filósofo e professor norte-americano John Rawls, autor da obra "Uma Teoria da Justiça", que morreu em 24 de novembro de 2002 com 81 anos - Reuters

"TJ" é concebida como alternativa ao utilitarismo. Rawls procurou desbancar a tese de que a sociedade deve procurar maximizar a prosperidade geral (ou outra forma de "utilidade" agregada).

De fato, o utilitarismo falha ao privilegiar a maioria mesmo quando esta viola os direitos fundamentais da minoria. Fracassa também ao presumir que a democracia (votos em representantes) constitua método adequado para aglutinar as preferências dos indivíduos em uma certa "vontade da maioria", como demonstra o Teorema da Impossibilidade de Arrow.

Porém, em lugar de se limitar a criticar o utilitarismo, Rawls decidiu rasgar os parâmetros milenares de justiça (por exemplo, "dar a cada um o que lhe cabe") e começar do zero. Adotou o construtivismo e fundou a sua teoria da justiça a partir de um experimento mental.

Rawls concebeu uma assembleia de indivíduos desumanizados que decretará o que é a justiça. Estes ignoram sua classe social ou que bens possuem; desconhecem sua inteligência, gênero ou personalidade; não sabem o que é o certo ou errado, bem ou mal; não têm metas de vida, nem conhecem sua genética, seus pais, a cultura em que vivem. Mas são racionais, não têm inveja de nada e conhecem as leis da política, de ciência econômica e da psicologia. Essa assembleia, segundo Rawls, racionalmente decidirá adotar as três regras abaixo, que estabelecem uma repartição de bens de caráter igualitário. A ideia é que egoisticamente decidirão evitar o risco de ficar por baixo na sociedade, e por isso adotarão uma extrema aversão a risco.

Em primeiro lugar, decidirão por assegurar o voto, a livre expressão e a inviolabilidade de pessoa contra opressões e prisões arbitrárias (mas não garantirão a propriedade produtiva nem a livre associação).
Em seguida, exigirão que toda e qualquer riqueza, influência ou poder não igualitários podem ser eliminados pelo Estado (por serem oportunidades inerentemente injustas).

Finalmente, estabelecerão que toda e qualquer diferença de renda ou patrimônio alcançado por um indivíduo por meio da cooperação social só será legitimada se ficar demonstrado que traz benefícios aos menos favorecidos.

O pressuposto de Rawls é que ninguém merece a sorte (ou azar) de seu ponto de partida social e biológico. Ninguém merece, alega, sua genética, seus talentos, sua motivação para crescer, os pais que teve, ter nascido onde nasceu, ter tido certas oportunidades. Portanto, tampouco necessariamente merecemos o produto de nossos esforços, que dependem dessas contingências e talentos imerecidos. Pela natureza arbitrária dessas contingências, é preciso haver uma forçada equalização social.

Rawls se vale da falácia do "petitio principii", ou seja, estabelece seu experimento mental de forma a garantir que resulte em uma repartição igualitária, de acordo com seu pressuposto de que qualquer diferença inicial entre indivíduos é injusta. O experimento é encomendado para suprimir a propriedade, e por isso perde significado.

Rawls é o caos. E no Brasil há quem goste.

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