Helio Mattar

Diretor-presidente do Instituto Akatu, foi secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (1999-2000).

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A mudança sempre passa pela sociedade civil

População exerce papel importante ao pressionar tomadores de decisão

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É fato que não alcançamos o progresso esperado na 26ª Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP26. Mas, passado o evento, uma convicção permanece sobre a importância de se ter uma sociedade civil sensibilizada em relação aos grandes desafios socioambientais e mobilizada para mudar o cenário atual, cobrando das autoridades e das empresas ações efetivas para o seu combate.

A sociedade civil, com destaque para os jovens das mais variadas origens, desempenhou um papel fundamental ao ocupar as ruas de Glasgow para mostrar sua insatisfação com o modelo de produção e consumo vigente e cobrar medidas eficazes para construir um futuro mais sustentável.

Como exclamou a ativista Greta Thunberg durante uma das marchas de protesto que reuniram milhares de pessoas na George Square, no centro da cidade escocesa: "Deveria ser óbvio que não podemos resolver uma crise com os mesmos métodos que levaram ao início dessa crise".

Essa geração apresentou um documento de posicionamento endossado por 40 mil pessoas exigindo que os líderes mundiais considerassem as demandas dos jovens nas negociações sobre o clima. O documento pede que se garanta a participação de grupos sub-representados, reconhecendo o papel das cidades em alcançar uma transição justa e respeitando, protegendo, cumprindo e promovendo todos os direitos humanos na ação climática.

Ouso dizer que sem as manifestações da sociedade civil os resultados da COP26 teriam sido ainda menos ambiciosos do que as metas apresentadas pelos 197 países participantes, claramente insuficientes para cumprir o Acordo de Paris, conforme estimativas do Climate Action Tracker, coalizão de análise climática, que indicam que se terá um aumento de temperatura de 2,4º em relação aos níveis pré-industriais até o final do século.

Quando fundamos o Instituto Akatu, há 20 anos, nosso objetivo principal era (e continua sendo) justamente empoderar a sociedade civil, educar para a sustentabilidade e o consumo consciente, apresentar os impactos positivos e negativos dos padrões vigentes de produção e consumo e mostrar que cada indivíduo é um importante agente de transformação social, dado seu poder direto de influência sobre familiares e amigos e seu poder de multiplicar a conscientização para os valores de sustentabilidade junto às comunidades a que pertence.

Ao longo desses anos, acompanhamos o crescimento da preocupação por parte da população com os temas socioambientais e com a sustentabilidade da vida no planeta, no mundo e no Brasil.

De acordo com a recém-lançada Pesquisa Vida Saudável e Sustentável 2021, desenvolvida pelo Akatu e pela GlobeScan, 8 em cada 10 consumidores brasileiros veem os eventos climáticos extremos como incomuns e 5 entre 10 consideram que tais eventos são muito incomuns e alarmantes.

Esses dados indicam que uma parte muito significativa da sociedade está ciente da gravidade dos desafios socioambientais enfrentados hoje. Mas precisamos aumentar essa parcela de pessoas para que suas percepções, seus desejos e sua voz exerçam, cada vez mais, pressão nos tomadores de decisão, sejam as empresas privadas, sejam os governos. E isso se consegue com educação.

No Brasil, a lacuna deixada pelos governos na esfera educacional não raro é coberta pelas organizações da sociedade civil, verdadeiras multiplicadoras de processos inovadores de sensibilização e mobilização para os mais variados temas socioambientais.

O Akatu, pautado pela missão de "educar e comunicar em escala, atuando como ativista de um novo modelo mental e de comportamento que leve as pessoas a adotarem estilos sustentáveis de vida refletidos na prática do consumo consciente e da produção responsável", mantém desde 2013 o Edukatu, a primeira plataforma gratuita de aprendizado online sobre consumo consciente e sustentabilidade do Brasil.

Voltada para educadores e alunos do Ensino Fundamental, ela já alcançou mais de 6.000 escolas públicas por meio de parcerias com secretarias de educação de todas as regiões do país, tendo sensibilizado mais de 150 mil alunos e capacitado 13 mil educadores.

Ciente de que é necessário aprofundar os múltiplos esforços para educar a sociedade para a sustentabilidade, o Akatu lançou em outubro o site Primeiros Passos. Trata-se de um guia para ajudar as pessoas a começarem sua jornada pelo consumo consciente (ou a avançarem nela) a partir de dicas práticas sobre os temas água, alimentos, biodiversidade, crise climática e resíduos.

Seu objetivo é "recrutar" mais consumidores conscientes, ou seja, sensibilizar para os principais impactos do consumo e orientar na forma de um passo a passo o que qualquer indivíduo pode fazer a partir de pequenas mudanças de comportamento que contribuam significativamente com o coletivo, especialmente se cada pessoa se tornar um multiplicador desse processo.

Ainda a mesma Pesquisa Vida Saudável e Sustentável 2021 mostra que 86% dos brasileiros declaram desejar reduzir seu impacto individual sobre o meio ambiente e a natureza —contra 73% da média global.

Esse desejo é a oportunidade de mostrar aos consumidores o que e como fazer, assim como o impacto positivo que podem gerar. Como consequência, assimilados os caminhos, as pessoas perceberão que devem contribuir para a mudança do modelo de produção e consumo de modo a transformar o padrão vigente, que é totalmente insustentável.

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