Helio Mattar

Diretor-presidente do Instituto Akatu, foi secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (1999-2000).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Helio Mattar
Descrição de chapéu clima

Esta será uma eleição pelo clima

Combate à crise climática está relacionado à luta contra a pobreza e à recuperação sustentável da economia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A consciência no consumo, trabalhada há mais de 20 anos pelo Instituto Akatu, busca criar condições para que cada escolha tenha os melhores impactos possíveis na compra, no uso e no descarte de produtos ou serviços. O voto consciente vai pelo mesmo trilho: trata-se de escolher candidatos cuja visão de sociedade e agenda política caminhem na direção do que cada um considera gerar o melhor impacto possível. Mas, para ser consciente de fato, é preciso fazer campanha a favor dos candidatos que se apoia. Assim, o voto individual —e consciente— pode se multiplicar.

As questões ambientais dificilmente ditarão o resultado nas urnas. Ainda assim, são de importância primordial para definir cada voto, visto que os mandatários eleitos determinarão a direção a ser seguida nesses temas por muitos anos. A urgência da crise climática não permite o luxo de aguardar as próximas eleições.

Inundação no leste do Kentucky, nos EUA; mudança climática torna cheias e secas cada vez mais comuns
Inundação no leste do Kentucky, nos EUA; mudança climática torna cheias e secas cada vez mais comuns - AFP/Guarda Nacional do Tennessee

Esta compreensão é ainda mais importante no Brasil de 2022, após três anos e meio de um governo federal que agiu de forma contrária aos cuidados com o meio ambiente. O desmatamento da Amazônia, como exemplo, atingiu a maior taxa em 15 anos. Entre agosto de 2018 a julho de 2021, as terras indígenas —que apresentavam os melhores índices de cuidados ambientais em razão dos esforços dessas populações— tiveram uma alta no desmatamento de 153%, em média, quando comparado ao último triênio. Como consequência disso e de outras ações nocivas, o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa mostra que apenas em 2020 houve aumento das emissões de carbono em 9,5%, sobretudo por conta dos desmatamentos.

A próxima eleição, portanto, mais do que as anteriores, passou a ser uma "eleição climática". O tempo disponível para ações eficazes de combate à crise climática é cada vez mais curto e o custo da inação (ou da ação na direção contrária) será muitas vezes superior ao das ações que trariam resultados desejados.

É natural que neste momento os eleitores estejam pautando o desemprego, a miséria, a fome e a inflação. Mas é central perceber que as soluções para estas questões têm ligação direta com as de combate à crise climática. Os preços dos alimentos sofrem com as inundações e secas mais frequentes e intensas. A saúde pública e a emergência de novos vírus, como o da Covid, se relacionam com o deslocamento de animais selvagens para regiões próximas às cidades. E, de outro lado, a recuperação da economia tem muito a ganhar em emprego e renda se direcionada a atividades com efeitos ambientais positivos.

Pesquisadores têm afirmado que o meio ambiente não resiste a um outro governo federal que não combata a crise climática. É fundamental acabar com a rejeição às evidências científicas e colocar o país de volta ao protagonismo que teve na agenda socioambiental. Aliás, como é o desejo de 70% dos brasileiros, que na Pesquisa Vida Saudável e Sustentável 2021, realizada por GlobeScan e Akatu, afirmaram que o país "deve ter um papel de liderança e metas ambiciosas para combater as mudanças climáticas o mais rápido possível". Desejo também expresso na edição de 2020 do mesmo estudo, no qual 71% dos brasileiros disseram ser mais importante reestruturar a economia para lidar com as desigualdades e as mudanças climáticas do que a rapidez nessa recuperação.

O Brasil teria enormes oportunidades: pouco depende de combustíveis fósseis na geração de energia elétrica, tem disponibilidade de áreas ideais para a geração de energias renováveis e tem enorme capacidade de ganhos econômicos a partir da implantação de um mercado global de carbono, sem falar do potencial inexplorado da bioeconomia.

Ao votar de forma consciente, cada indivíduo contribui na escolha de candidatos com valores ambientais e sociais sólidos, privilegiando aqueles: (1) respeitosos da constituição e das instituições democráticas; (2) com agenda política respeitosa das ciências; (3) que defendem o cumprimento dos compromissos do país frente ao Acordo de Paris; e (4) com ações de apoio a populações vulneráveis, a comunidades indígenas e de combate ao racismo.

Nessas próximas eleições, a população terá acesso a informações qualificadas para melhor analisar os candidatos a mandatos legislativos. O Painel Farol Verde, iniciativa liderada pelo Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS) e o Grupo de Trabalho Socioambiental da Rede de Advocacy Colaborativo (RAC), do qual o Akatu faz parte junto a outras organizações da sociedade civil, vai lançar no dia 20 de setembro uma plataforma online com informações sobre a relação dos candidatos com pautas como crise climática, meio ambiente, direitos socioambientais e sustentabilidade.

A adesão ao painel é suprapartidária e voluntária. Todos os candidatos a deputado federal e a senador podem responder às 12 perguntas e tornar público seu posicionamento na agenda socioambiental, abastecendo os eleitores de informações confiáveis e ajudando-o a fazer uma escolha mais consciente.

Outra iniciativa importante é a da Proposta de Emenda Constitucional 37/2021, a PEC da Segurança Climática, cujo objetivo é inserir a garantia à segurança climática em três artigos da Constituição Federal: no Art. 5º, como direito humano fundamental; no Art. 170, como princípio da ordem econômica e financeira nacional; e no Art. 225, como núcleo essencial do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Também batizada de "A Lei Mais Urgente do Mundo", ela precisa passar pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania). Uma pesquisa junto aos deputados federais mostra suas posições favoráveis ou contrários a ela, permitindo identificar quais deles irão, em um possível próximo mandato, trabalhar (ou não) para aliar desenvolvimento econômico ao combate à crise climática.

O voto nada mais é do que a escolha pelos cidadãos dos seus representantes nas tarefas de elaboração de leis e no uso do dinheiro público. Um voto consciente escolhe esses representantes por meio de informações confiáveis, que revelem o alinhamento das propostas dos candidatos às necessidades do coletivo, para que se melhore a vida em sociedade. Está evidente a necessidade premente da sociedade brasileira de ter, em todos os cargos públicos, pessoas íntegras que coloquem a proteção ambiental e o enfrentamento da crise climática no centro das decisões políticas. Informe-se e vote conscientemente!

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.