Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Como são feitas as emoções

Em livro, neurocientista defende que emoções são uma construção social

Desenho de uma cabeça em que aparecem os contornos de um cérebro
Desenho do cérebro - Divulgação
Hélio Schwartsman
São Paulo

Emoções são uma construção social. Essa é, numa frase, a tese central de Lisa Feldman Barrett em "How Emotions Are Made" (como são feitas as emoções). Não haveria nada de surpreendente se Barrett fosse professora em algum departamento de estudos de gênero, mas ela é uma neurocientista "mainstream" e afirma que suas conclusões estão amparadas em sólida evidência empírica.

O ponto forte do livro é justamente a parte em que Barrett mostra que há problemas nos modelos tradicionais que fazem com que cada emoção corresponda à ativação de um circuito neural específico. Por esse paradigma, emoções seriam universais e teriam uma assinatura biológica inconfundível.

O problema, diz Barrett, é que ela passou anos num laboratório em busca dessas assinaturas e não as encontrou. Não temos dificuldade para reconhecer a emoção medo num ator fazendo uma careta estereotipada, mas isso não passa de uma convenção cultural. Nem todos que sentem medo apresentam as mesmas expressões faciais e nem sequer os mesmos sinais fisiológicos.

A partir daí —e essa é a parte em que o livro fica aquém do que promete—, Barrett conclui que o modelo tradicional está errado e propõe outro no qual as emoções são construídas "top down" pelo cérebro no instante em que ele classifica as sensações positivas ou negativas que experimenta. A cultura e a própria linguagem seriam parte indispensável desse processo.

Minha impressão é que Barrett foi com muita sede ao pote. Seus achados fragilizam as versões mais fortes do modelo tradicional, mas não bastam para pôr abaixo um edifício construído com a colaboração da maior parte dos filósofos ocidentais, do próprio Charles Darwin e de um número ainda maior de neurocientistas contemporâneos. Até pode ser que Barrett tenha razão, mas ainda é cedo para decretá-lo.

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