Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Uma defesa do Facebook

Empresa fracassou em proteger a privacidade de usuários, mas estão exagerando nas críticas

Dados de 50 milhões de usuários do Facebook foram parar nas mãos da consultoria política Cambridge Analytica
Dados de 50 milhões de usuários do Facebook foram parar nas mãos da consultoria política Cambridge Analytica - Norberto Duarte/AFP

Eu não amo nem odeio o Facebook, pela simples razão de que nunca participei desta nem de nenhuma outra rede social. “Full disclosure”: nem celular eu possuo. Nada contra quem está nas redes, apenas prefiro reservar mais tempo para ler livros (nos quais ideias costumam ser apresentadas de forma mais elegante e estruturada do que em posts) e fazer outras coisas de que gosto.

É, portanto, na qualidade de observador desapaixonado que afirmo que estão exagerando nas críticas à empresa. A essa altura, não há dúvida de que o Facebook fracassou miseravelmente em proteger a privacidade de usuários. Também podemos discutir se as redes sociais devem ser reguladas mais rigidamente, como um órgão de imprensa, ou mais liberalmente, como administradores de um mural virtual onde cada usuário publica o que quer. Há bons argumentos para as duas abordagens.

O que não faz muito sentido, me parece, é apontar o Facebook como uma ameaça à democracia global e o responsável pela eleição de Donald Trump e pelo “brexit”. Não porque Mark Zuckerberg e seus homólogos sejam genuínos democratas, mas simplesmente porque existem limites físicos à tal da manipulação eleitoral.

Ninguém ainda inventou uma tecnologia que leve democratas a votar, contra a sua vontade, em republicanos. O que informações contidas nas redes permitem fazer é identificar o perfil ideológico de cada eleitor e dirigir-lhe propaganda personalizada, com maior probabilidade de produzir os efeitos esperados pela parte que “manipula” o sistema.

Fossem outros os atores envolvidos, isto é, se não houvesse russos, nem Trump nem a Cambridge Analytica na jogada, o esforço para motivar o eleitor a ir à urna no dia do pleito (nos países civilizados o voto não é obrigatório) e fazê-lo participar mais da campanha poderia ser descrito como um serviço à democracia em vez de uma ameaça.

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