O português é a sétima língua mais falada do mundo. O idioma que usamos determina nosso modo de pensar? Essa é uma tese popular. Apoiaram versões mais ou menos fortes dela Nietzsche, Heidegger e Wittgenstein. O senso comum vai na mesma linha. Adora uma explicaçãozinha linguística (em geral falsa) para estereótipos nacionais: a corrupção corre solta na Bulgária porque no idioma local não há palavra para designar “integridade”.
Entre linguistas, a teoria é conhecida como Hipótese Sapir-Whorf (SWH), em referência ao linguista Edward Sapir e seu aluno Benjamin Lee Whorf, que defendia uma formulação forte da tese.
Whorf afirmou que, enquanto os idiomas europeus pensam a realidade como objetos no espaço, outras línguas, em especial as da América, se focam no processo temporal. Um de seus seguidores sugeriu que um falante de hopi teria mais facilidade que um ocidental para apreender a teoria da relatividade, em que espaço e tempo formam um contínuo.
Os delírios provocados pela SWH foram tantos que a linguística do pós-guerra se pôs a esfacelá-la. Os casos que supostamente a apoiavam, como as centenas de palavras para “neve” que existiriam em línguas esquimós, foram reavaliados e se revelaram um misto de sensacionalismo e falta de conhecimento do idioma.
Steven Pinker, adversário ferrenho da SWH, diz que o cérebro pensa em “mentalês” e depois traduz os conceitos para a língua natural que calhamos de falar.
Nos últimos anos, contudo, vêm surgindo estudos mostrando que, em certas condições e de modo muito mais fraco do que o pretendido por Whorf, o idioma de fato influi no pensamento.
Isso parece ser verdade para nomear cores, imaginar um gênero para ideias (a morte é feminina em português, mas masculina em alemão) e outros campos que, se não vão revolucionar a física, oferecem uma janela para compreender melhor a maneira como tecemos nossas ideias.
)
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.