Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Chacina farmacológica

Estimativas preliminares indicam a ocorrência de 72 mil mortes por overdose nos EUA em 2017

Homem que sofreu overdose recebe atendimento médico em Boston, nos EUA
Homem que sofreu overdose recebe atendimento médico em Boston, nos EUA - Brian Snyder - 8.nov.17/Reuters

Os números da crise dos opioides nos EUA não param de piorar. Estimativas preliminares recém-divulgadas indicaram a ocorrência de 72 mil mortes por overdose em 2017, um aumento de 6,6% em relação ao ano anterior. É mais do que o total de óbitos contabilizados nos anos em que a Aids, acidentes de trânsito ou armas de fogo registraram seu recorde de vítimas.

A maioria das mortes foi provocada por opioides, categoria que inclui tanto drogas derivadas do ópio, como morfina e heroína, quanto substâncias sintéticas que imitam seus efeitos, como fentanil. Ressalte-se que estamos falando aqui apenas de overdoses, só uma das inúmeras complicações de saúde provocadas pelo abuso de drogas.

Se há algo que marca a história dessa epidemia, são falhas de regulação. Tudo começou nos anos 90, quando médicos americanos, com base em poucos e mal interpretados estudos, além de uma boa ajuda dos departamentos de marketing dos laboratórios, passaram a prescrever opioides até para dores agudas e de baixa intensidade.

A liberalidade com que se receitavam oxicodona e hidrocodona, que logo se tornaram campeãs de vendas, acabou gerando milhões de dependentes. E eles não demoraram a perceber que era mais fácil e mais barato obter seu suprimento com traficantes do que com médicos.

A overdose, ao contrário do entorpecimento, não é um efeito desejado pelo usuário. Ela tem ocorrido em larga escala porque os traficantes passaram cada vez mais a batizar a droga vendida nas ruas com substâncias sintéticas de alta potência, que são mais fáceis de produzir e transportar, mas que elevam muito o risco de intoxicação letal.

Paradoxalmente, agora rigores na regulação dificultam a adoção em larga escala de medidas que poderiam ajudar a conter a epidemia, como a criação de mais salas de injeção, onde a qualidade da droga poderia ser monitorada, ou a prescrição de terapias de substituição.

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