É um mau sinal a decisão do governo federal de aumentar o valor das diárias que paga por internações de longa duração em hospitais psiquiátricos. E observem que não estou aqui me referindo ao impacto fiscal da medida, mas à sua dimensão sanitária mesmo.
Ao reajustar o valor das internações psiquiátricas longas (mais de 90 dias), mantendo os demais serviços congelados, o poder público estimula tanto a dilatação do prazo de internação como a oferta de vagas em instituições exclusivamente voltadas a transtornos mentais. Nenhum dos efeitos é desejável.
Mais do que qualquer outra especialidade médica, a psiquiatria é dividida por paixões político-ideológicas. Há, contudo, razoável consenso técnico de que as internações devem ser tão breves quanto possível e de que é preferível fazê-las em hospitais gerais, já que, à vista de todos, é menor o risco de que se repitam os abusos que marcaram a era dos manicômios.
No fundo, estamos aqui diante de mais um capítulo da guerra cultural em torno da reforma psiquiátrica. Enquanto os grupos mais à esquerda insistem que é preciso extinguir as instituições psiquiátricas e reduzir ainda mais as internações, setores à direita querem rever essas políticas. Apostam, por exemplo, em convênios com organizações religiosas para tratar dependentes químicos.
Não há dúvida de que o vetor da reforma psiquiátrica é corretíssimo. Com o advento das primeiras drogas antipsicóticas, nos anos 50, tornou-se possível tratar a maior parte dos portadores de doenças mentais fora de instituições.
É igualmente certo que a chamada luta antimanicomial incorreu em exageros ideologicamente motivados. Por vezes, internações mais longas são mesmo necessárias. Em certos contextos, instituições psiquiátricas fazem sentido. É preciso, portanto, proceder a um ajuste fino no sistema, obviamente sem retroceder nos importantes avanços obtidos nas últimas décadas.
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