Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Fraude natalina

Trump está correto ao sugerir que garota estava meio grandinha para acreditar em Papai Noel

Donald Trump atende a ligações para compartilhar informações sobre o monitoramento do trenó do Papai Noel
Donald Trump atende a ligações para compartilhar informações sobre o monitoramento do trenó do Papai Noel - Jacquelyn Martin/Associated Press

Quando não está empenhado em atividades mais destrutivas, como promover guerras comerciais ou estimular o uso do carvão como fonte de energia, Donald Trump diverte o mundo envolvendo-se em polêmicas natalinas.

Talvez tenha faltado um pouco de tato ao presidente, ao sugerir para uma garota de sete anos que ela já estava meio grandinha para acreditar em Papai Noel, mas, no essencial, ele está correto. Nessa idade, a menina já deveria desconfiar de que é vítima de um complô quando se vê enredada em um.

E não estamos falando de um complô qualquer. Confesso que fiquei chocado ao tomar conhecimento de que, desde 1955, o Norad (Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte), uma joint venture entre militares dos EUA e do Canadá, que dá o alarme no caso de um ataque nuclear, “monitora” o trenó de Papai Noel. Atualmente, o Norad mostra num site o progresso do bom velhinho, de modo que as crianças possam deixar-lhe leite e biscoitos.

Que pais tentem reviver sua infância incutindo lendas bizarras nas cabeças de seus rebentos é um traço da natureza humana, mas, quando o poder público participa desses esforços embusteiros, estamos diante de uma fraude. Se o Estado não hesita nem por um instante em mentir para crianças, devemos acreditar que age de outro modo em relação a adultos?

E, por falar em adultos, será que eles se saem muito melhor do que os pequeninos? A julgar pelas pesquisas, não. Embora mais de 80% dos norte-americanos de cinco anos de idade acreditem em Papai Noel, essa proporção cai para menos de 35% aos nove anos. Já entre os americanos adultos, a fatia dos que creem que Adão e Eva existiram e que Deus criou o mundo há menos de 10 mil anos, como relata o Gênesis, é de 42%. O detalhe intrigante é que, por sutilezas da epistemologia, é mais fácil provar que a Terra tem mais do que 10 mil anos do que a inexistência de Papai Noel.

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