Noam Chomsky se celebrizou pelas bandeiras de esquerda que sempre levanta quando fala de política. Já em seu campo de expertise, a linguística, suas posições, além de constituir o “mainstream” acadêmico, poderiam até ser descritas como “de direita”, já que ele é o principal proponente de uma teoria, a da gramática universal (GU), que tem como pressuposto a existência não apenas de uma natureza como também de um excepcionalismo humanos.
Com efeito, entre os mais importantes postulados da GU estão os de que humanos já nascemos com uma predisposição genética para adquirir a linguagem e de que ela obedece a um conjunto de regras estruturais comuns a todos os idiomas. Elas estariam fundadas em princípios hierárquicos e se materializariam na sintaxe.
Como não poderia deixar de ser, a GU provocou polêmicas desde que foi esboçada nos anos 50. Neste século, porém, os ataques vêm se intensificando. Muitos dos críticos sustentam que não existe nem é necessário nenhum módulo especial do cérebro dedicado à linguagem. A sofisticação dos humanos ao utilizá-la seria só uma expressão da inteligência geral de nossa espécie.
Acaba de sair no mercado de língua inglesa “Language Unlimited” (linguagem ilimitada), de David Adger, uma competente defesa da GU. Adger retoma os argumentos clássicos pró-GU, como a recursividade, a naturalidade com que crianças impõem uma gramática a idiomas crioulos e línguas de sinais, a virtual incapacidade que outros animais têm para processar a sintaxe. O autor consegue expor esses temas, que podem assumir contornos bem técnicos, de forma bastante didática e surpreendentemente prazerosa.
Concluída a leitura da obra, é difícil não se tornar pelo menos um pouquinho chomskyano.
Não tenho ideia de quais sejam as posições políticas de Adger, mas, no campo da divulgação científica, ele deu um show.
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