Este ano não tivemos Carnaval, mas isso não impede o centrão de viver sua apoteose. O grupo agora tem o presidente Jair Bolsonaro em suas mãos e parece estar com a faca e o queijo na mão para aprovar pautas de seu interesse.
Os exemplos que me parecem mais significativos são a PEC que reforça a imunidade de parlamentares e a ideia de relativizar a cláusula de barreira a partidos que não conseguem um mínimo de votos.
No front do Judiciário, os ventos também estão a favor do grupo, que tem vários de seus membros enrolados em processos e inquéritos. Se no auge da Lava Jato a Justiça chancelava quase tudo o que vinha de procuradores, inclusive coisas com marcas fortes de abuso, agora nossos magistrados parecem dispostos a anular tudo por qualquer filigrana.
Cabe aqui uma reflexão sobre a natureza do centrão, que opera como uma força de estabilização da política, mas que nos amarra a um padrão muito ruim de eficiência do Estado.
Os efeitos estabilizadores são fáceis de ver. Bolsonaro, que é um elemento disruptivo, foi enquadrado. É claro que não se tornou um “moderado” na melhor acepção do termo, mas parou com suas pregações semanais contra o Congresso e o STF. Não teve nem coragem de defender o deputado Daniel Silveira, voz representativa do bolsonarismo de raiz.
Pautas de estimação do presidente e de seus apoiadores, como armamento da população, escola sem partido, fim do piso para educação e saúde etc. também devem sofrer desidratação no Parlamento, se é que serão aprovadas.
O lado menos auspicioso é que paroquialismo na alocação de verbas, acertos fisiológicos, impunidade para casos de corrupção, vulnerabilidade a lobbies, que estão inscritos no DNA do centrão, são fatores que impedem o Brasil de tornar-se um Estado mais moderno e eficiente.
Se o centrão nos preserva do pior do bolsonarismo, também é a âncora que nos prende à armadilha da renda média.
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