Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Hélio Schwartsman
Descrição de chapéu STF

Dizimando a justiça

É preciso manter algum senso de proporcionalidade nas punições

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tinha razão o Montesquieu. A separação dos Poderes é fundamental. Colocando de outra forma, é um perigo deixar os juízes legislarem.

Não sou muito impressionável, mas confesso que fiquei chocado ao ler, na reportagem de Ranier Bragon sobre as cotas de fundo eleitoral para mulheres e negros, que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) baixou resoluções que preveem que uso de "candidaturas femininas fictícias" acarretará a cassação de diplomas ou mandatos de todos os candidatos da chapa partidária, "independentemente de prova de sua participação, ciência ou anuência". Pior, o dispositivo vem sendo aplicado por alguns tribunais eleitorais, ainda que não haja uniformidade nas decisões.

Não tenho nada contra aplicar castigos a quem descumpra normas, mas é preciso manter algum senso de proporcionalidade. Ao atacar o problema com mão pesada, cassando todos os eleitos, tenham ou não participado da irregularidade, o TSE incorre numa forma de punição coletiva. Pode até ser que funcione, mas há muitas coisas que funcionam e, ainda assim, nos recusamos a utilizar.

Os generais romanos puniam a covardia em suas fileiras matando cada décimo legionário, independentemente do que aquele soldado em particular houvesse feito. Daí o termo "dizimar". Funcionava. Os nazistas fuzilavam dez civis para cada soldado alemão morto em ações da resistência. Também funcionava. Nós poderíamos capturar as mães de criminosos foragidos e ameaçar matá-las se eles não se entregarem. Acho que funcionaria.

A punição escolhida pelo TSE não só vai contra fundamentos do direito penal, como a individualização da culpa, mas também viola o contrato básico da democracia, pois priva o eleitor de representantes que ele escolheu. Mesmo para os que, como eu, têm uma quedinha pelo consequencialismo, a norma é, no longo prazo, contraproducente, já que reduz a confiança do cidadão na ideia de uma Justiça equilibrada.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.