Embora os trabalhos ainda não tenham sido publicados em "journals", já dá para afirmar com alguma segurança que a variante ômicron do Sars-CoV-2 causa uma doença menos grave do que a delta. Acrescente-se a isso o fato de que, pelo menos nos países de renda alta e média, a vacinação está em geral bem avançada e temos bons motivos para crer que não veremos mais taxas de mortalidade como as de ondas anteriores.
Ainda assim, a ômicron pode ser bem disruptiva. O problema é que ela é muito, muito mais infecciosa do que as cepas precedentes. Quem conferir os gráficos de contágio em diferentes países constatará que, nas ondas prévias, as curvas de novos casos lembravam morros e até montanhas escarpadas. Mas, com a ômicron, o que vemos são paredões verticais mesmo. Se ainda não registramos isso no Brasil, é porque testamos pouco e mal e porque o sistema nacional de contabilização está bichado.
Muito da disrupção deve aparecer na forma de absenteísmo, que poderá afetar gravemente algumas indústrias. Já vimos isso acontecer em escala internacional com o cancelamento de voos no fim do ano. Com pilotos e comissários adoecendo, não havia como tripulá-los. No Brasil, restaurantes enfrentam problemas.
A situação é particularmente preocupante nos hospitais. Se, na mortífera segunda onda, os então recém-vacinados profissionais de saúde não tiveram de afastar-se em grandes quantidades, agora, com a ômicron, que também tem o escape vacinal entre suas características, eles voltaram a contaminar-se. As escalas estão ficando comprometidas e as coisas ainda devem piorar antes de melhorar. A concomitante epidemia de influenza A H3N2 não ajuda. Vale lembrar que a crise de pessoal não afeta só o atendimento de síndromes gripais, mas de todas as moléstias.
É o caso de as autoridades avaliarem se, com a ômicron, os prazos de isolamento não devem ser reduzidos, como os americanos já fizeram.
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