Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Cálculo de probabilidades esconde sutil discussão filosófica

Se há algo ao mesmo tempo sutil e controverso, é a filosofia da probabilidade

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O que significa dizer que há 30% de probabilidade de chover amanhã em sua cidade? No dia seguinte, choverá ou não choverá. Então, o que são esses 30%? Um jeito de entender a cifra é pensá-la como uma frequência. De cada 100 previsões de tempo iguais a essa, o cenário com chuva se materializará 30 vezes. Mas o que é uma previsão "igual a essa"? Se há algo que quase nunca se repete, é o conjunto dos parâmetros usados em um modelo climático.

Outro modo de compreender os 30% é encará-los como a confiança que o próprio meteorologista deposita em sua previsão. Ao anunciar os 30%, ele estaria dizendo que apostaria 7 contra 3 que não vai chover. Nesse caso, deixamos de falar do clima para falar de características subjetivas de quem o analisa.

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 27 de março de 2022, mostra uma cena ao ar livre. Em 30% da cena chove torrencialmente, enquanto nos demais 70%, o sol brilha sob o céu azul sem nuvens. No meio, um homem jovem de cabelos ruivos segura na mão esquerda um guarda-chuva azul escuro fechado, olha para cima, com expressão confusa. Ele veste camisa verde escura de mangas longas, calça bordô e sapatos marrons.
Ilustração de Annette Schwartsman para coluna de Hélio Schwartsman de 27 de março de 2022 - Annette Schwartsman

Se há algo ao mesmo tempo sutil e controverso, é a filosofia da probabilidade. Em "Bernoulli’s Fallacy", Aubrey Clayton nos conduz pelos fascinantes meandros dessa metafísica estatística. Clayton se classifica como militante bayesiano (a corrente que aceita o subjetivismo) e mostra vários problemas associados à interpretação frequentista, que, segundo ele, se firmou nas ciências, particularmente nas ciências sociais, porque prometia uma objetividade matemática. Essa, porém, era uma falsa promessa, baseada numa falácia cometida por Jacob Bernoulli no século 18.

Para Clayton, o paradigma frequentista é o grande responsável pela crise de reprodutibilidade nas ciências. Ele nos levou a aceitar muitos falsos positivos como se fossem boa ciência. Não surpreende que seja difícil reeditá-los em estudos posteriores. O matemático defende que troquemos de vez a concepção frequentista pela bayesiana. Os elementos subjetivos que ela traz são indissociáveis da própria ciência, atividade que, por definição, nunca oferece respostas finais. Estamos sempre atualizando nossas perspectivas à luz de nova informação, exatamente como no teorema de Bayes.

helio@uol.com.br

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