Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Eleição um dia voltará a ser a festa da democracia?

O bolsonarismo não irá embora, mesmo que o atual mandatário vá para a cadeia

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Não muitos pleitos atrás, descrevia-se o dia da eleição como festa da democracia. Tratava-se, afinal, do momento em que o eleitor exercia seu poder de mando, definindo os nomes daqueles que o governariam pelos próximos quatro anos. Contestar as regras do jogo ou trabalhar para minar as próprias instituições era algo que ficava fora do radar. A situação hoje é mais sombria. Seria um exagero afirmar que a democracia no Brasil acabou ou está com seus dias contados, mas é forçoso reconhecer que ela se encontra em mau estado e pode piorar.

No cenário menos provável e mais dramático, Jair Bolsonaro vence o pleito e dá continuidade à escalada autoritária. Seria muito ruim, não apenas em termos institucionais mas também administrativos. A atual gestão foi especialmente destrutiva em relação a meio ambiente, educação, ciência e cultura e não há nenhum sinal de que isso possa mudar.

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 30 de outubro de 2022, mostra, sob um fundo vermelho, as silhuetas negras de uma pequena multidão de pessoas, adultos e crianças, alguns carregando bandeiras, cartazes, estrelas, outros fazendo símbolos com as mãos -esticando polegares e indicadores e dobrando os demais dedos-, todos festejando com animação, confeti e serpentina.
A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 30 de outubro de 2022 - Annette Schwartsman

Mesmo assim, eu hesitaria em decretar que a vitória do atual presidente seria o fim. Bolsonaro só permanece vivo na política porque, quando as coisas apertaram, ele se aliou ao centrão. E o centrão sabe que só tem poder dentro da democracia. O grupo, acredito, barraria, como já barrou, iniciativas mais democraticidas do presidente.

O cenário mais provável, porém, é aquele em que Lula vence o pleito. Isso afastaria a ameaça mais aguda à democracia, mas, infelizmente, não significaria a retomada da normalidade. O bolsonarismo não irá embora, mesmo que o atual mandatário vá para a cadeia. A extrema direita tomou o lugar da centro-direita democrática e penso que será difícil restaurar o espaço que um dia já foi ocupado pelo PSDB. Registre-se que fenômeno semelhante vem ocorrendo em outras partes do mundo, com tradição democrática mais sólida que a brasileira.

Não creio, porém, que nos reste outro caminho que não o de resistir e tentar reconstruir. Talvez um dia voltemos a equiparar democracia a festa.

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