São nossas bundas que nos fazem humanos. A afirmação pode causar certa surpresa, mas, desde que devidamente contextualizada, faz todo o sentido. Não há entre os mamíferos nenhum outro animal com músculos tão desenvolvidos nessa região, e o propósito disso é relativamente claro. O "gluteus maximus" é o principal responsável pela extensão do quadril, que é o que nos permite correr por horas a fio, ainda que a velocidades relativamente baixas. E essa habilidade foi fundamental para que o homem conseguisse as calorias necessárias para desenvolver um cérebro grande, seja caçando bichos que se cansam mais rápido seja competindo por carniça.
Essa e outras ideias sobre bundas são a matéria-prima de "Butts – A Backstory", de Heather Radke. O livro procura traçar uma história cultural dos traseiros. Gostei bastante dos primeiros capítulos, que abordam a ciência glútea. Os outros, que se centram em temas como moda, dietas, exercícios, cultura pop e celebridades, são decerto interessantes, mas devo confessar que, como não estão entre meus assuntos favoritos, eu, por ignorância, devo ter perdido referências importantes. Pior, mesmo quando os nomes me eram familiares, como Jeniffer Lopez e Kim Kardashian, eu não tinha uma imagem mental de suas bundas, o que me forçou a recorrer ao Google em busca de fotos em que mostram seus atributos como se fosse um tarado.
Radke não se limita a contar histórias, como a de Sarah Baartman, a sul-africana da etnia khoe, capturada por colonizadores holandeses no século 18 e obrigada a passar o resto de sua existência exibindo suas volumosas nádegas para plateias europeias, ao lado de anões e mulheres barbadas. O texto da autora é também um texto militante, no sentido de que procura mostrar como bundas femininas frequentemente foram instrumentalizadas e fetichizadas, transmitindo ideias estereotipadas de raça, gênero, inserção social etc.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.