Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Como Israel foi tão para a direita?

Mudanças na demografia explicam crescimento do conservadorismo no país

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São Paulo

Unanimidade política é algo que jamais existiu em Israel, mas o país surgiu em 1948 como um Estado que tendia mais à esquerda do que à direita. Seu primeiro líder, David Ben Gurion, era socialista, categorização que, com alguma flexibilidade, também se aplica a outros "pais fundadores", como Golda Meir, Moshe Dayan e Yitzhak Rabin. Também se dizia que Israel era o único lugar do mundo onde o socialismo, na figura dos kibutzim, tinha dado certo.

É claro que também houve, desde os primórdios, políticos mais à direita, como Menachem Begin e Yitzhak Shamir, mas havia o entendimento de que o Estado deveria ser secular. Religiosos até poderiam ganhar alguns privilégios, como subsídios e isenção do serviço militar, pois era consenso que estavam fadados a ser para sempre uma minoria não muito importante.

O fundador do Estado de Israel, David Ben Gourion (à dir.), conversa com o físico Albert Einstein, nos EUA, em 1951 -- AFP - AFP

A demografia, porém, está mudando a correlação de forças e ameaça o contrato social original do Estado judeu. Embora Israel tenha uma taxa de fecundidade alta, especialmente para um país rico, a dos religiosos é muito maior do que a dos seculares. As famílias israelenses têm em média três filhos. Entre os seculares, são só dois, e chegam a sete entre os ultraortodoxos, os haredim. Até há pouco, os haredim rejeitavam a política. Achavam que era pecado criar um Estado judeu antes da vinda do messias, mas mais recentemente passaram a votar e operar nas mesmas linhas dos religiosos nacionalistas, num movimento que fortalece a direita. Os três ministros mais prolíficos do atual governo, todos religiosos, têm, na soma, 33 filhos.

A população secular ou levemente religiosa ainda é majoritária em Israel, mas as mudanças estão em curso. O país é provavelmente o único lugar do mundo onde os mais jovens apresentam uma tendência de voto mais conservadora do que a dos mais idosos.

Como a divisão tem base na demografia e não apenas no Zeitgeist, os enfrentamentos estão só começando.

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