É bonito quando uma teoria descreve um fenômeno e, depois, nós nos deparamos com ele no mundo real. O caso mais célebre talvez tenha sido o das observações astronômicas de Arthur Eddington e Frank Dyson, feitas durante um eclipse solar total em 1919, que constataram a deflexão gravitacional da luz de estrelas. O achado foi interpretado como uma confirmação da Teoria da Relatividade Geral, de Albert Einstein.
É claro que, nas ciências sociais, as coisas nunca ocorrem de forma tão dramática como na física, mas acabamos de ter um gostinho disso com as manifestações em Israel contra o governo de Binyamin Netanyahu. Semanas de protestos encimados por uma greve geral que chegou a fechar o aeroporto Ben Gurion conseguiram fazer com que o premiê congelasse uma proposta de reforma do Judiciário que subverte o equilíbrio dos Poderes e, portanto, a democracia.
Penso que os eventos em Israel funcionam como uma vívida corroboração das ideias de Daron Acemoglu e James Robinson sobre desenvolvimento expostas em "O Corredor Estreito". Nessa obra, que é uma espécie de sequência do best-seller "Por Que Nações Fracassam", a dupla de economistas sustenta que, para alcançar a combinação de liberdade individual com prosperidade econômica, países precisam encontrar um raro balanço entre o poder do Estado, capaz de impor uma ordem pró-desenvolvimento, e o da sociedade, que precisa conter os apetites totalitários das engrenagens estatais.
Em algum grau, isso ocorre o tempo todo. Eleitores dos EUA e do Brasil deram uma demonstração disso quando negaram um segundo mandato a Trump e Bolsonaro, líderes com fortes tendências autoritárias. Mas o caso israelense é mais paradigmático porque porções significativas da população tomaram literalmente as ruas e ensaiaram um movimento de desobediência civil contra medidas que ameaçam de modo bastante explícito as instituições. Mais claro, só se desenharem.
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