Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Ficção ou realidade?

Capacidade de distinguir histórias inventadas de fatos é natural entre humanos, mas incentivos sociais podem gerar adesão a mitos

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O Conar instaurou um processo para determinar se a propaganda da Volkswagen com Elis Regina viola as regras éticas da organização. Uma das muitas acusações contra a peça é que ela, ao trazer a cantora "de volta à vida", contribuiria para causar confusão entre ficção e realidade. Mas será que humanos somos assim tão propensos a confundir ficção com realidade?

A resposta direta à pergunta é "não". Se há algo que nossa espécie sabe fazer é distinguir histórias inventadas de fatos. E sabemos fazê-lo pela simples razão de que somos consumidores ávidos de ficção.

A imagem mostra duas mulheres sorridentes na direção de veículos
As cantoras Maria Rita e Elis Regina no filme publicitário - Divulgação/Volkswagen

Contar histórias em torno de fogueiras é um universal humano. Não há tribo que não se dê a essa prática e não mantenha seu acervo de lendas. Elas servem tanto para reforçar a coesão do grupo como para nos adestrar em como lidar com desafios do mundo real. Histórias de terror, por exemplo, nos ensinam a enfrentar nossos medos. E essas funções só se efetivam se soubermos separar o que é ficção do que não é.

Outra evidência de que a distinção nos é natural está no fato de que as crianças não precisam de mais do que alguns anos para descobrir que Papai Noel não existe, embora os adultos lhes mintam o tempo todo.

Essa decupagem entre fato e ficção é hoje considerada um argumento em favor do valor adaptativo da arte.

Mas, se somos tão bons em separar o real do inventado, como explicar que existam terraplanistas, antivaxxers e vários outros grupos que creem em ideias sem lastro fático? O problema aí não é que lhes falte o instrumental para fazer a decupagem, mas sim que existem incentivos sociais para que proclamem acreditar em ficções. Com efeito, essas pessoas não alcançam essa condição por causa de algum déficit cognitivo, mas porque se enredaram em circuitos sociais em que ganham pontos diante de seus pares se dão sinais críveis de que aderem às bandeiras do grupo. Nada que não vejamos todos os dias em igrejas.

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