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Os bastidores do jornalismo nas periferias de SP

Descrição de chapéu

Como contar histórias e desfazer pré-conceitos

Então existe Ramadã na periferia!?, disse um leitor. Agora ele sabe que sim

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Lucas Landin Paulo Talarico
Itaquaquecetuba (SP) e São Paulo | Agência Mural

Após a publicação da reportagem Islã ganha adeptos nas periferias de SP sem ligação com a comunidade árabe, recebi muitos comentários pelas redes sociais, de amigos e de desconhecidos. Infelizmente, a maioria deles tinha um caráter preconceituoso, algo que eu já esperava. Mas é de se destacar a enorme quantidade de pessoas que se diziam surpresas ao descobrir que o Islã existia nas periferias de São Paulo.

Não posso dizer que esses comentários me deixaram surpreso. Quando pensamos na São Paulo cosmopolita, onde diferentes grupos convivem entre si, raramente vêm à nossa cabeça a imagem de um bairro periférico, como São Miguel Paulista, no extremo leste, onde árabes, japoneses e nordestinos dividem a calçada da mesma avenida com seus pontos comerciais.

Se por um lado é muito difícil para um morador de São Paulo definir o que é ser paulistano, é muito fácil para esse morador estereotipar o que é ser periférico. A periferia, ao contrário do que muitos pensam, não é um bloco único. As periferias também têm muita diversidade.

Islã na Periferia de SP. Edmar Cândido da Silva é divulgador do islã (Foto: Karime Xavier / Folhapress) - Folhapress

Eu cresci em São Miguel, e morava muito próximo de uma mesquita. No meu círculo social era normal ver mulheres de hijab e colegas de classe comemorando o Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos. Essas pessoas também são periféricas, não?

Foi daí que surgiu meu interesse em escrever a matéria, e contar um pouco da história do Islamismo nas periferias da capital e da Grande São Paulo. Mas se nem todo periférico é igual, tampouco os islâmicos. Encontrei através de amigos em comum jovens da zona leste que haviam se convertido (ou "revertido", como eles dizem) para entrevistar. Até então os muçulmanos que eu conhecia eram todos ligados à comunidade árabe.

Foi assim que conheci o Edmar. Atualmente líder de um centro religioso no Tatuapé, ele disse ter ficado muito feliz em poder contar um pouco de sua experiência de vida e de sua religião.

Entrevistá-lo foi enriquecedor também para mim, que apesar de ter um contato prévio com os muçulmanos, não sabia que a religião estava crescendo tanto a ponto de já existir mesquitas dando o sermão em português (até pouco tempo só o faziam em árabe).

"As pessoas têm medo daquilo que não conhecem", disse Edmar para mim. E esse foi mais um fator que me motivou a escrever a reportagem: ajudar a quebrar outro estereótipo, o do Islamismo como religião bélica ou avessa à paz. Já tive a curiosidade de ler o Alcorão e participar de algumas aulas sobre a religião, portanto, sei que essa imagem pouco tem a ver com os escritos do livro sagrado dos muçulmanos.

Os moradores da favela da Cultura Física também sabem disso. Como conto na reportagem, a comunidade rejeitava a implantação da mesquita de início, mas após conhecer melhor os seus preceitos, passou a enxergá-la como um ponto de referência.

Essa mudança de pensamento, inclusive, também estava presente nos comentários que recebi sobre a reportagem. Li pessoas contando que o texto as ajudou a refletir e a conhecer mais, não apenas sobre o Islã, mas sobre a própria cultura de São Paulo. "Então existe Ramadã na periferia!?", disse um leitor da Folha. Agora ele já sabe que sim.

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