Um dos apelidos do premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, é "mestre da sobrevivência". Não foram poucas as ocasiões em que sua carreira política foi declarada morta, mas ele deu a volta por cima. Sei que corro o risco de ter de morder a língua, mas penso que, desta vez, ele sucumbirá.
Netanyahu terá firme apoio dos israelenses para conduzir a guerra contra o Hamas, mas, assim que a situação estiver mais estabilizada, haverá cobranças. Israelenses podem até fazer vistas grossas para as acusações de corrupção que pesam sobre o premiê, mas, quando o assunto é segurança, a população costuma ser implacável na responsabilização de líderes. Nem Golda Meir, figura muito menos divisiva do que Netanyahu, sobreviveu ao fiasco dos serviços de inteligência em se preparar para a guerra de 1973.
E, desta vez, o fracasso é muito mais estridente. Ele se deu tanto no plano operacional como no político —e Netanyahu tem culpa nos dois. Sua administração fracionou Israel. Militares e chefes de serviços de inteligência vinham alertando para os riscos para a segurança, que, em última análise, depende da coesão social. Mais, a fim de agradar a extrema direita religiosa que era o fiel da balança de sua gestão, Netanyahu redirecionou recursos militares para a proteção dos colonos na Cisjordânia, desguarnecendo outras áreas.
É no plano político, contudo, que o malogro se revela ainda mais inapelável. Contrário à solução de dois Estados, Netanyahu sempre se empenhou em enfraquecer o Fatah, a ala moderada dos palestinos envolvida nas negociações de paz. Para isso, não hesitou em fortalecer os radicais do Hamas, julgando que seria possível manter uma situação de beligerância controlada com o grupo. Deu no que deu.
Livrar-se de Netanyahu é um passo indispensável para qualquer futuro acordo de paz, mas ainda largamente insuficiente. E tenho dúvidas de que os israelenses darão os outros.
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