A queda de Claudine Gay do posto de reitora de Harvard representa uma vitória do consórcio de grupos conservadores e pró-Israel que exigia sua cabeça. Dá até para dizer que Gay caiu numa armadilha. O ponto é que todo mundo sabia que o convite para depor numa audiência do Congresso sobre antissemitismo em universidades era uma armadilha e ainda assim Gay e outras reitoras se deixaram enredar na trama.
Poderiam ter evitado. A reitora de Columbia, por exemplo, que também fora chamada para depor, sabiamente declinou. Penso até que Gay poderia ter ido e se saído melhor. As perguntas difíceis que ela enfrentaria eram óbvias. Com um pouco de media training ela teria conseguido evitar os embaraços que acabaram lhe custando o cargo.
Não digo que teria sido fácil. Há ao menos uma contradição real que não vejo como pacificar. Universidades de elite americanas ficaram rápidas em punir discursos e atitudes que violam o consenso identitário-progressista, mas exibem tolerância quase infinita para com manifestações eticamente questionáveis desde que em consonância com a ortodoxia. A culpa é mais do Zeitgeist institucional do que de reitores isoladamente.
E isso nos leva a um problema ainda mais fundamental. É claro que a diversidade e o empoderamento de minorias são valores desejáveis. Várias instituições podem incluí-los em seus objetivos principais. Universidades são menos livres para fazê-lo. O compromisso inarredável de uma universidade de elite deve ser para com o ensino e a pesquisa, sua razão mesma de existir. Outras metas não são proibidas, mas são secundárias.
O pecado de Harvard foi ter transformado o subsidiário em principal. Custa-me crer que a mais renomada universidade dos EUA não tome o cuidado de escolher como líder alguém que, se não tiver um Nobel no currículo, pelo menos exiba credenciais acadêmicas inquestionáveis, que não sucumbam ao primeiro exame minucioso.
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