Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Como a Bíblia surgiu?

Livro diz que Antigo Testamento se organizou como uma resposta dos judeus a derrotas militares que arrasaram seus reinos

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Para os fundamentalistas, a Bíblia é a palavra de Deus e ponto final. Tal posição tem problemas. O que fazer das inúmeras contradições das Escrituras? Não sei se Jacob Wright é ateu, agnóstico ou crente, mas, como professor de estudos bíblicos, ele se inscreve numa tradição que teve início com religiosos que se interessaram em compreender como esse corpo literário surgiu e se organizou num cânon. Para fazê-lo, costumam utilizar, além da exegese do texto, elementos de história, arqueologia, filologia e religião comparada. É, se quisermos, o mais perto que a religião chega da ciência.

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 30 de junho de 2024, mostra, sobre um escriba judeu do século XXXIII a.C. escrevendo em hebraico antigo, à luz de velas,  sobre um livro de papiro, com uma caneta de pena, histórias que deram origem ao Antigo Testamento.
Annette Schwartsman

Em "Why the Bible Began", Wright oferece uma interpretação original para o surgimento da Bíblia Hebraica, por aqui chamada de Antigo Testamento. Como uma pequena comunidade que vivia numa região periférica do Oriente Médio da Antiguidade elaborou uma literatura que influencia o mundo até hoje? Para Wright, a resposta é: derrota, derrota acachapante. Num intervalo de cerca de 150 anos, os judeus viram os dois reinos que criaram, Israel, ao norte, e Judá, ao sul, serem arrasados. Não poderiam, como era costume na época, encetar uma canção da vitória.

A solução encontrada pelos escribas para tentar manter a comunidade como uma unidade política foi celebrar a derrota. Foram aos poucos juntando e reescrevendo um amplo corpo de histórias e lhes dando novos sentidos, que colocavam a ideia de um povo unido por um passado e um futuro comuns acima da de Estado, isto é, de reinos que não mais existiam.

No limite, os conquistadores não haviam vencido porque eram militarmente superiores, mas porque o Deus dos judeus quis que isso acontecesse, para punir violações pretéritas de seus eleitos.

O texto de Wight é deliciosamente erudito e muito elucidativo. Explica até como Eclesiastes e Jó, livros da Bíblia que caminham muito perto do niilismo e questionam abertamente Deus, foram incluídos no cânon.

helio@uol.com.br

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