Hermano Vianna

Antropólogo, escreve no blog hermanovianna.wordpress.com.

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Hermano Vianna

Pensamento ousado de psicanalista ajuda a lidar com mundo que explodiu

Para MD Magno, vivemos a entrada nos perrengues do Quarto Império

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Anda com insônia pensando nas terceira e quarta ondas? Você nunca deve ter lido/ouvido os papos do psicanalista MD Magno, produtor/divulgador de um dos pensamentos mais ousados, interessantes e divertidos que o Brasil já inventou.

Ali aprendemos que isto tudo agora, não apenas a pandemia, é nossa entrada —não somente da humanidade, mas de todo o real, ou melhor, de tudo que há— nos perrengues do Quarto Império.

O bagulho é muito doido, revirado. Como cantou a Anitta: “Prepara!”. Não há garantia nenhuma de que o que vem por aí é show das poderosas.

Magno diz: “Faço a suposição de que teremos ainda uns 50 anos desse conflito específico de entrada no Quarto Império, que vai encher o saco, produzir muita desgraça, e aí o pessoal vai querer arrumar. Depois, então, teremos uns 200 anos de implantação.” Repare bem: é implantação. “Isso vai durar milênios. Cada império dura dois ou três milênios.”

Muito tempo, quase eternidade. Mesmo assim ninguém poderá reclamar de tédio: “Muita guerra, muito sangue, luta, morte, desgraceira”. Resumo: “Uma conflituação generalizada —e que vai aumentar, podem esperar”.

O problema maior é que “as pessoas têm cabeça de Terceiro e estão entrando atônitas no Quarto Império.” Diante de tudo que está acontecendo, há três reações típicas.

A primeira, cada vez mais clara (Magno fez este diagnóstico em 2013, tudo piorou bastante de lá para cá): “Uma grande parte foge para trás e aí temos a recrudescência de aparelhos ideológicos claramente fascistas e de aparelhos religiosos e outros mais ou menos violentos”. Perda de tempo: “Não adianta porque ninguém segura rabo de foguete —vai queimar a mão”.

A segunda: “Há o pessoal que fica de bobo alegre, estagnado, achando que está tudo bem, sem saber que a bomba vai cair em sua cabeça”.

Terceira: “E há aqueles, poucos, que tentam fugir para frente, buscando ver o que é possível construir para o entendimento do que está acontecendo e do que virá”.

Essas palavras me deram saudade, tão caudalosa quanto o rio Negro em época de cheia, de Waly Salomão, outro profeta da “fuga para frente”. Sinto falta enorme daquela verborragia incontrolável, ilha de edição de ideias, BPM aceleradíssimo com o da música singeli ou shangaan electro.

Era um tipo de personalidade comum aqui no Brasil, que não se fabrica mais. Não conheço ninguém exatamente assim na minha geração ou nas posteriores. Glauber, Hélio, Zé Celso e muito mais. Magno, discípulo de Anísio Teixeira, segue no mesmo estilo, fugindo rapidinho para adiante.

Em muitas dessas fugas prafrentex há o namoro com esse troço (me segura!) dos cinco impérios, que nos perturba/consola desde sempre, desde a “História do Futuro” de Vieira, a “Mensagem” de Pessoa ou as aulas afro-orientais-templárias do professor Agostinho da Silva. E de antes, com João de Patmos, Joaquim de Flora, aquela turma pré-sebastianista da pesada.

Magno coloca a história dos cinco impérios para funcionar no regime da máquina pós-lacaniana e muitíssimo esperta que inventou para explicar tudo. Não dá para explicar a explicação aqui, é preciso ouvir tudo da boca do seu criador, com suas palavras, disponíveis em muitos livros e no site da Novamente (“a prática freudiana atuante no ambiente psicotecnológico do século 21”).

Posso apenas dizer que no princípio é assim: “Haver desejo de não haver.” Essa é a pulsão que movimenta tudo. Problema: diante da constatação óbvia de que o não haver não há, o desejo —qualquer desejo, todo desejo— “quebra a cara”. Volta. E continua desejando o impossível. Taí, eu fiz tudo, como cantava nossa Pequena Notável, não deu certo, nunca dará certo: todo o bom e o ruim da vida vem daí. Terra sempre em transe.

Entre muitas outras coisas, isso dá no “creodo” (do grego, da teoria das catástrofes, significando “percurso obrigatório”) antrópico dos cinco impérios, que Magno já apresentou até no Palácio do Planalto na era FHC (o Planalto já foi assim, e algo disso deve permanecer, afinal o prédio tem o feng shui dos cálculos de Samuel Rawet, outro(a) desse(a)s…). Pena que não tem mais gente escutando, usando sua máquina para maquinar outras máquinas, e assim por diante.

Qual seria a vantagem? O próprio Magno responde: “O ganho que existe é o de desconfiguração, disponibilidade, acrescentamento, riqueza, possibilidade de nos movermos mais à vontade”.

Para preparar, quem sabe acelerar (“devagarinho”, ensina Paulinho da Viola), durante milênios (o que mais temos para fazer?), a chegada do Quinto Império. Ou apenas, “dificílimo”: “Disponibilização da pessoa para seus instrumentos de modo a poder lidar com o mundo que explodiu”.

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