Igor Gielow

Repórter especial, foi diretor da Sucursal de Brasília da Folha. É autor de “Ariana”.

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Natureza do Centrão ajuda Alckmin a tentar montar 'Geringonça' tropical

Divisões entre partidos do grupo levaram ao apoio a tucano, que ganhou musculatura e problemas

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Geraldo Alckmin passou de patinho feio a um dos cotados a levar o Planalto na eleição deste ano com uma manobra que teve tanto cálculo político quanto sorte circunstancial: a atração do chamado Centrão.

Geraldo Alckmin discursa com os pré-candidatos a governador e vice em SP, João Doria e Rodrigo Garcia
Geraldo Alckmin com os pré-candidatos a governador e vice em SP, João Doria e Rodrigo Garcia - Patricia Stavis - 20.jun.2018/Folhapress

As primeiras remadas da embarcação se mostraram bastante desengonçadas, com a novela do sim-não-talvez do seu vice preferencial, Josué Alencar (PR). Independentemente do desfecho, Alckmin ganharia se a negociação fosse menos pública.

Elas explicitam o caráter complexo de um organismo multicelular acéfalo como o Centrão. O grupo é, enfim, inconfiável. O paradoxo é que isso permitiu a costura pró-Alckmin, que garantiu ao tucano precioso tempo de horário eleitoral gratuito.

O Centrão é uma hidra quíntupla: DEM, PR, PP, PRB e Solidariedade ostentam cabeças em sua carcaça. Cada uma mordeu para um lado na fase do lusco-fusco da Copa, só para concordar ao fim que Alckmin seria um denominador aceitável.

O PP piscou para Ciro Gomes (PDT), entre outras coisas, porque seu chefe, Ciro Nogueira, enfrenta eleição associado ao PT no Piauí. Assim, uma aliança com alguém supostamente de esquerda funcionaria melhor.

Já o Solidariedade, a sigla pertencente ao famoso Paulinho da Força, apostou no pedetista porque ele prometeu acabar com a reforma trabalhista do governo Temer, que limou a boquinha do imposto sindical.

Com metade de sua bancada formada por gente oriunda do mundo da bala, o PR pendia a Jair Bolsonaro (PSL). Magno Malta (ES), por assim dizer a estrela do partido no Senado, apoia o deputado, mas não topou a vice por conveniência eleitoral e também por ordem do dono da agremiação, Valdemar Costa Neto.

O DEM era preferencialmente pró-PSDB, mas uma fatia gorda sua andava a elogiar Ciro, mais por conveniência regionalista do que por ideologia --no papel, imiscível com o que o pedetista representa, apesar de sua amaciada de tom.

O partido, o PP e Solidariedade vetavam liminarmente apoio a Bolsonaro. Já PR e PRB, este sempre com Alckmin, negavam qualquer acerto com Ciro.

Em resumo, o Centrão esteve perto de implodir. Sem coesão mínima, sua agenda de fisiologia se dilui e o incrível poder que poderá exercer no Congresso a partir de 2019, seja lá quem for o infeliz indivíduo a ocupar o Planalto, esvanece na mesma medida.

Como hidra só assusta se tiver muitas cabeças, ouviram Alckmin. O tucano prometeu até compensar o fim do imposto sindical para agradar a fração Paulinho do bicho. Negócio fechado, turbulências virão como cortesia, é do jogo.

Para Alckmin, foi uma tábua de salvação. A imagem do Centrão é medonha? Há alvos da Lava Jato por todo canto lá? Verdade, e não é diferente no PT ou no PSDB, por diferentes que sejam as acusações a cada um.

Para isso, a profecia tucana de que esta é uma eleição curta na qual o santinho vale mais que os “likes” da rede social, e em que TV supera a internet, precisa se concretizar. Segundo ela, Bolsonaro, Ciro e Marina Silva (Rede) ficariam pelo caminho. Muita gente duvida disso, e há o inevitável fator do voto antiestablishment a ser considerado.

Se vai dar certo para Alckmin, é outra história, mas o cenário então sugere a volta da polarização com ninguém menos do que o PT. O partido foi ressuscitado parcialmente pela impopularidade de Temer e terá voto expressivo no Nordeste, mas está alijado de seu proprietário, o ora preso Lula.

Virou moda recente elogiar a “Geringonça”, o governo de socialistas amorfos com esquerdistas libertários e comunistas linha-dura em Portugal. O motivo é o sucesso econômico momentâneo da inusitada e inédita coligação, embora ele seja menos contrário a princípios de austeridade do que a esquerda vende.

Com a devida licença poética, dada a impossibilidade de comparar a política nas antigas matriz e colônia, Alckmin também está tentando montar a sua “Geringonça” tropical nesta campanha. A diferença central é que, aqui, ela já foi testada antes. Deu em Lula e Dilma, sucessos e fracassos, todos eivados por mensalões e petrolões.
 

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