A Ilustrada de 30/12 informa que a "cultura do cancelamento" foi eleita "a" palavra de 2019 pelo dicionário australiano Macquarie.
"A palavra cancelar passou a ser usada na internet também para pessoas. Com isso, qualquer um pode ser cancelado e sofrer um boicote depois de ser condenado pelo tribunal das redes sociais", dizia o texto.
Acontece por diversas razões: uma simples opinião, uma pisada na bola e também por crimes gravíssimos. Todos acabam no mesmo balaio.
Uma amiga DJ me deu um exemplo. Há alguns dias, ela colocou "Billie Jean", de Michael Jackson, para tocar em uma festa. Imediatamente, o dono da boate foi à cabine e ordenou que interrompesse a canção: "Aqui não tocamos pedófilos".
É claro que Jackson deveria ter sofrido as punições para seu crime. Mas o direito à liberdade de expressão deve ser cancelado? Pessoalmente, quando alguém quer proibir uma manifestação cultural, meu interesse pelo errado aumenta.
Assim, aguardo um Bloco dos Cancelados tomar a avenida neste Carnaval. José Mayer (cancelado por abuso sexual), Kevin Spacey (idem), Roman Polanski (condenado por estupro na Justiça) e Woody Allen (acusado e cancelado por estupro) poderão comparecer.
As fantasias de índio e árabe (apropriações culturais) voltarão às ruas. Os clássicos "Cabeleira do Zezé" (que humilha gays) e "Maria Sapatão" (idem com lésbicas) serão cantados nesses dias de folia.
Obras-primas de Chico Buarque (cancelado sem crime, mas por ser de esquerda) se alternarão com bons rocks de Lobão e Roger, do Ultraje a Rigor (esses, por serem de direita).
O pessoal da direita se divertirá colocando máscaras de Adélio Bispo, o desequilibrado que esfaqueou Bolsonaro. E o povo à esquerda vestirá a carranca de Eduardo Fauzi, o energúmeno acusado de tacar fogo na Porta dos Fundos. Afinal, os brasileiros usávamos máscaras do Bin Laden, certo?
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