Joanna Moura

É publicitária, escritora e produtora de conteúdo. Autora de "E Se Eu Parasse de Comprar? O Ano Que Fiquei Fora da Moda". Escreve sobre moda, consumo consciente e maternidade

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Joanna Moura
Descrição de chapéu Todas maternidade

A aventura de viajar com filhos

Não, fácil nunca vai ser, mas sigo acreditando que vale a pena encarar o desafio

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Foram 15 dias de viagem, só a gente. Uma mãe, um pai, uma criança de quatro anos, um bebê de um. Quinze dias fora da nossa casa, da nossa cidade, da nossa rotina. Sem ajuda de creche, de escola, de vizinha. Sem a familiaridade dos parquinhos do bairro, da conveniência da comida preparada de antemão e armazenada no congelador. Quinze dias de "férias".

Sempre viajamos muito. Desde que morávamos no Brasil e ainda éramos apenas uma família de dois. Quando nos mudamos para Londres a veia viajante pulsou ainda mais frenética. Saindo de um país continental para um continente com tamanho de país, viajar ficou mais fácil, mais rápido, mais barato.

Criança em janela de avião
Unsplash

E enquanto estávamos muito ocupados carimbando passaportes e escolhendo o próximo destino, as vozes ao redor diziam: "Aproveita! Daqui a pouco chega filho e é game over". As palavras proferidas assim mesmo, em tom profético, como uma sentença.

Confesso que tive medo da profecia, especialmente por olhar ao redor e ver que ela tinha se cumprido para tantos amigos. Gente desse tipo que um dia havia atravessado o deserto da Namíbia numa Kombi e que agora só fazia mala para resort e hotel fazenda.

O medo foi tanto que, antes de engravidar, decidimos embarcar numa dessas viagens que definitivamente não ia rolar de fazer com filho. Fomos para a Indonésia, onde passamos uma semana a bordo de um barco, navegando dentro do Parque Nacional de Komodo, passeando com lagartos venenosos e mergulhando com arraias gigantes e cardumes de tubarões. Três meses depois de voltarmos, Stella estava a caminho.

Nos três primeiros meses ficamos em casa, vivendo essa nova aventura que é cuidar de uma nova vida, entendendo essa matemática de ser três em vez de dois. Mas eis que uma hora os hormônios baixaram, a vida pareceu entrar mais nos eixos e, aos poucos, fomos ganhando coragem para voltar a fazer as coisas que nos faziam felizes antes dela chegar. Inclusive viajar.

E foi assim que, ao completar seu primeiro aniversário, Stella já havia viajado de carro, de trem, de ferry boat e de avião. Já havia dormido em berço de viagem, colchão no chão, cama de hotel, na cadeirinha do avião.

Max chegou três anos depois. E, aos oito meses, aterrissou no país que, anos antes, achamos que poderia ter sido palco da nossa última grande aventura. Passamos 74 dias na Indonésia, pulando de uma ilha para outra, numa viagem bem diferente daquela de cinco anos atrás, mas igualmente diferente daquela visão que o mundo nos havia pintado do que seria viajar com filhos.

Fácil não é, e tem horas em que eu definitivamente consigo entender o apelo do resort/hotel fazenda a uma hora de casa. Se aventurar pelo mundo com filho significa muitas vezes abrir mão do seu descanso, conforto e entretenimento, pelo descanso, conforto e entretenimento do outro.

Mas com tempo, perseverança e paciência, a gente vai achando o nosso jeito de ceder sem se perder, incluindo nas viagens programadas para eles, mas também os trazendo para o nosso mundo, apresentando a eles as coisas que nos fascinam. Para que eles expandam seus horizontes, ou, minimamente, aprendam que nem tudo é para eles e sobre eles.

Ao embarcar de volta para Londres na sexta-feira passada, meu corpo estava exausto. Mas meu coração e minha cabeça estavam cheios de momentos que simplesmente não teriam acontecido se tivéssemos ficado no conforto do mundo que conhecemos.

Não, fácil nunca vai ser, mas sigo acreditando que vale a pena encarar o desafio. Se não rolar, não rolou, parte para a próxima. Mas, se rolar, o que fica na memória vale muito mais que qualquer perrengue.

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