João Pereira Coutinho

Escritor, doutor em ciência política pela Universidade Católica Portuguesa.

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João Pereira Coutinho

Não foi bonita a festa, pá

Radicais de direita criaram baderna no Parlamento português contra Lula

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Foi uma manhã triste em Lisboa. Não foi por falta de aviso. Lula da Silva discursava no Parlamento português e os radicais do partido Chega –nossos bolsominions, em suma– iniciam a baderna com tapas nas mesas, cartazes contra a corrupção e bandeiras da Ucrânia.

A atitude não é apenas antidemocrática –quem ali está é o presidente do Brasil, não o cidadão Lula da Silva. Mas é também uma atitude hipócrita: no próximo mês, o Chega recebe em Lisboa vários líderes e partidos de direita radical que são claramente russófilos. Jair Bolsonaro, que estará presente, será um deles. Espero para ver quantas bandeiras da Ucrânia serão desfraldadas.

Deputados de extrema direita protestam contra Lula no Parlamento - Patricia de Melo Moreira/AFP

Mas o incidente é igualmente lamentável porque os discursos do presidente brasileiro e do presidente da Assembleia da República foram equilibrados e, no caso de Augusto Santos Silva, exemplar. Todos queremos a paz na Ucrânia. Só um louco prefere uma guerra bárbara e criminosa.

Lula e o presidente da Assembleia da República Portuguesa, Augusto Santos Silva - Rodrigo Antunes/Reuters

Mas essa paz, como lembrou Santos Silva, seria uma realidade imediata se a Rússia se retirasse do território soberano que invadiu.

Lula da Silva ainda não admite essa hipótese e, com excesso de simplismo, afirma tão só que as armas nunca resolveram nada. Por acaso, resolveram, senhor presidente: não foi a "diplomacia" e o "diálogo" que pararam Adolf Hitler. Foram as armas das democracias contra as armas do totalitarismo.

Seja como for, a condenação de Lula à invasão russa da Ucrânia foi o primeiro passo para não nivelar todos os participantes da tragédia pela mesma batuta. Seria bom que Lula, independentemente do contexto, mantivesse a mesma narrativa.

No próximo ano, os portugueses comemoram os 50 anos da Revolução dos Cravos. Ainda não se conhece o figurino das festas.

Mas espero, com a inevitável dose de ceticismo, que as lições deste ano tenham sido aprendidas. A data sempre se prestou ao sectarismo e ao ressentimento dos radicais. Introduzir mais ruído e mais tensão nesse vespeiro com convites impensados só beneficia quem cresce com o lamaçal.

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