Joel Pinheiro da Fonseca

Economista, mestre em filosofia pela USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Joel Pinheiro da Fonseca
Descrição de chapéu Congresso Nacional

O que priorizar na escolha de deputados?

Escolher bem parlamentares é tão ou mais importante que o chefe do Executivo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Enquanto olhamos apenas para o presidente, o Congresso tem cada vez mais poder. Assim, escolher bem nossos parlamentares é tão ou mais importante que o chefe do Executivo.

Mas o que é um bom parlamentar? Desde pelo menos Maquiavel o pensamento político ocidental reconhece que o fazer política é muito diferente —e opera por regras diversas— da moral padrão que rege o homem comum.

Plenário do Congresso Nacional - Wesley Amaral - 12.jul.22/Câmara dos Deputados

Para a intuição moral comum, a defesa do bem requer uma postura inflexível. Transigir, aceitar um meio-termo entre seus valores e a negação deles é participar do mal, é trair aquilo em que se acredita. Na política, contudo, essa postura é contraproducente: impede o diálogo e o compromisso necessário para avançar a agenda.

Uma política que satisfaça inteiramente a um lado só é possível na ditadura. Numa democracia saudável, nenhum lado estará completamente satisfeito porque é obrigado a ceder parcialmente aos demais.

No passado, a distância que havia entre política e vida normal era grande o suficiente para manter as aparências. Hoje estamos perto e exigimos mais transparência. O que o brasileiro viu na política não o agradou.

Viu a política baseada na pura negociação de interesses partidários. Com ela, os políticos deixam de representar seus eleitores e passam a constituir uma classe à parte, cujo interesse (de abocanhar recursos e poder) não raro está diretamente oposto ao deles.

Chamamos isso de fisiologismo, e pode se dar de maneira diretamente ilegal (como foi no mensalão) ou formalmente legal (como o orçamento secreto, que acaba por irrigar práticas ilegais pelo país), mas em ambos os casos desvia recursos para o interesse privado de políticos com mandato.

Essa forma de fazer política apodreceu, e gerou, em parte, a revolta e o desejo pelo novo que desembocou em 2013, no bolsonarismo e em diversos movimentos de renovação. Em comum, a rejeição ao "sistema", ao modo de funcionar das estruturas do poder.

Um perfil oposto a esse ascendeu desde 2013: o político lacrador, que vive de gritar para seu eleitorado o que ele quer ouvir nas redes sociais e marcar vitórias simbólicas contra "o outro lado". Será que alguém, em qualquer momento, julgou que Daniel Silveira teria algo a contribuir ao processo legislativo? A função dele era basicamente "bater na esquerda", e elegê-lo era um ato de agressão imaginário contra os "esquerdistas" e nada mais. Apoiar alguém que choque a sensibilidade do outro lado é sentido como um ganho.

Acontece que esse tipo de político também não contribui em nada para um Congresso mais propositivo e eficaz em resolver os problemas da sociedade. Na prática, votam da maneira que agrada a seu eleitor polarizado; ou seja, votam para garantir o poder de seu lado político. O barulho dos lacradores é a melhor distração para que a política fisiológica continue a espoliar o Brasil sem ser incomodada.

O deputado que pode transformar nossa política é aquele que supera a falsa oposição entre fisiológicos e lacradores. O candidato capaz de ponderar e fazer escolhas difíceis, às vezes impopulares. Que negocia com quem quer que seja, e que sabe ceder de um lado para ganhar do outro, negociando posições em cima de propostas, e não apenas de cargos e verbas.

Por isso, na hora de votar, concordância ideológica é apenas um elemento, e nem sempre o mais importante. Inteligência, preparo e honestidade são igualmente importantes. Há muita gente honesta, preparada e decente do outro lado do espectro ideológico, e muitos boçais ao nosso lado.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.