Josimar Melo

Jornalista, crítico gastronômico, curador de conteúdo e apresentador do canal de TV Sabor & Arte

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Josimar Melo

Viajando nos edifícios de arquitetura pelo mundo

Conheci Paulo Caruso na FAU, edifício que me iniciou no turismo arquitetônico

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Uma tristeza a morte, no último dia 4, do cartunista Paulo Caruso. Eu o conheci quando, aos 17 anos, ingressei na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Logo notei (e como não notar??) os gêmeos veteranos, bem mais velhos mas cheios de jovialidade, perambulando juntos pelo generoso espaço da escola: Chico e Paulo Caruso. Magrelos, altos, cabelos compridos escorridos como os do Peninha da Disney.

Idênticos, era-lhes fácil enganar incautos. Certa vez Paulo (ou Chico) ficou de emprestar-me um livro; no dia seguinte, cruzando com Chico (ou Paulo) sem perceber que era o outro, cobrei dele. Percebendo o engano, ele me passou uma descompostura ("Achou mesmo que eu traria? Que eu confiaria em você?" etc.) –e foram bons segundos de bate-boca até eu perceber o engodo.

O cartunista Paulo Caruso - Instagram @caruso.paulo

Depois da faculdade foram vários encontros pela noite, como no bar Riviera, à época uma decente pocilga (que Paulo retrataria em gibis).

Tendo Chico mudado para o Rio, ficou mais fácil identificá-los: quando visitei a redação do jornal O Globo, sabia que o desenhista que estava lá era o Chico; já nas várias vezes no Roda Viva, da TV Cultura, era o Paulo (mesmo porque assim assinava as caricaturas que fazia de mim).

Ilustração de Paulo Caruso mostra Josimar Melo no Roda Viva
Ilustração de Paulo Caruso mostra Josimar Melo no Roda Viva em 2008 - Arquivo pessoal

As lembranças da FAU me remetem àquele espaço onde conheci Paulo e tanta gente –e como aquele edifício magnífico estimulava nossas relações e criatividade. Quem não estudou arquitetura pode achar um exagero. Mas (remetendo à minha coluna anterior, sobre a logomarca do turismo brasileiro) se meros centímetros de forma e cor podem dizer tanto até mesmo sobre um projeto de país, o que dizer do espaço edificado em abrigo onde se vive, trabalha, sonha, ama. Ou, numa escola, se estuda e projeta o futuro.

Terminado em 1969, o edifício da FAU, projeto dos arquitetos Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi, me impressionava tanto que sempre o imaginei como um objeto de peregrinação, que visitantes de toda parte deveriam ir conhecer.

Eu mesmo, graças a ele, virei um turista de escolas de arquitetura. Se um edifício pode ser um marco, imagine um edifício onde pessoas aprendem a fazer outros edifícios.

Lembro a curiosidade de ver a escola de arquitetura de Cambridge, na Inglaterra. Mas ali a centenária faculdade aninhara-se nos majestosos prédios preexistentes (a universidade tem oito séculos!).

Muitas faculdades europeias estão em edifícios antigos. Mas eu farejava aqueles desenhados com a específica função de ensinar arquitetura. Artigas foi um dos pioneiros, com seu caixote brutalista de concreto apoiado graciosamente em pilares de trapézio delimitando uma grande praça que unifica toda a escola com seu entorno –e seus ocupantes.

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Prédio da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), na Cidade Universitária, em São Paulo - Bruno Santos - 19.set.18/Folhapress

Mas vieram outras. Por exemplo, a Escola de Arquitetura do Royal Institute of Technology (do escritório Tham & Videgård) em Estocolmo (Suécia), nave pousada entre antigos edifícios de tijolos, dos quais rouba a cor (com seu aço escuro) e um peso suavizado por vidraças. Também na Europa fica a de Estrasburgo, França (de Marc Mimram), encaixada na cidade com térreo transparente sustentando blocos contorcidos e empilhados.

Em Coral Gables fica a da Universidade de Miami (do escritório Arquitectonica), uma praça recoberta por graciosa manta ondulada de concreto. E se, como eu, tiver parentes em Byron Bay (perto de Brisbaine, Austrália), veja a escola de Abedian (do CRAB Studio), com sua transparência arejada, tanto visualmente quanto do ponto de vista térmico.

Escola de arquitetura Abedian, em Brisbaine, na Austrália
Escola de arquitetura Abedian, em Brisbaine, na Austrália - Reprodução

Ou fique aqui pelo Brasil, visitando a faculdade na Federal da Bahia (de Diógenes Rebouças), com traços brutalistas integrados aos espaços livres e à natureza. E se imagine jovem, sendo provocado por esses espaços.

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