Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Biografia do corruptor J. Hawilla aborda traições, intrigas e ostentações

Investigação revela informações exclusivas do futebol sul-americano

J. Hawilla não viveu para ler sua biografia que dois repórteres, Allan de Abreu e Carlos Petrocilo, escreveram e que está sendo lançada pela Record.

Viveu o suficiente para impedir que o lançamento se desse em Rio Preto (SP) onde nasceu

A influência dele na cidade atemorizou shoppings centers e livrarias.

As 262 páginas da versão impressa de “O Delator” são exemplares como trabalho investigativo e lidas como se fossem novela.

Repleta de intrigas, traições, promiscuidade e ostentação, conta detalhadamente as peripécias do maior corruptor do futebol na América do Sul.

Fosse apenas o resumo bem feito dos malfeitos do protagonista, já seria belo trabalho de reconstituição das últimas três décadas de jogadas suas e de seus inúmeros sócios, entre pessoas físicas e jurídicas —de cartolas conhecidos como Ricardo Teixeira a executivos de televisão como o desaparecido Marcelo Campos Pinto, ex-diretor da Globo.

Só que é mais que isso. 

Não são poucas as informações exclusivas sobre contratos criminosos, propinas regiamente divididas, e até sobre a desconhecida prisão de Hawilla nos Estados Unidos, episódio contado com maestria como se fosse um filme policial.

O livro mostra como o jornalismo perde quando os interesses comerciais predominam e o desfecho não poderia ser outro senão com o FBI batendo à porta.

A dupla de autores dá uma aula de bom jornalismo e a leitura na véspera de mais uma Copa do Mundo tem o efeito de permitir que se olhe o futebol como ele é: tão emocionante como sujo. 
Infelizmente, com frequência, mais sujo que emocionante.

Mais não se conta aqui para não diminuir o impacto, assim como está feito no prefácio. 

Seleção nunca vista

Antero Greco escreveu com talento que traz do berço os textos para contar a história das fotos em preto e branco de Antonio Lucio sobre a intimidade da seleção brasileira de 1958, a que começou a história em cores do pentacampeonato.

Greco e Lucio fazem tabelinha demolidora numa viagem aos tempos de Pelé menino, príncipe insuspeito então da realeza que viria a seguir, nos campos da Suécia.

Ataque da seleção brasileira em jogo contra a  jogo a Inglaterra na Copa de 1958
Ataque da seleção brasileira em jogo a Inglaterra na Copa de 1958 - Acervo UH - 14.jun.58/Folhapress

O livro da editora Capella é um presente para quem era criança 60 anos atrás e uma lição para quem quiser conhecer mais os primeiros brasileiros a ganhar uma Copa do Mundo.
Greco soube tratar com sensibilidade aquilo que viveu em tenra infância e Lucio, falecido em 2000 depois de brilhar como fotógrafo também do jornal O Estado de S.Paulo, tem o justo reconhecimento na publicação de dezenas de suas fotos imortais.

O outro lado da bola

A Record está ainda com outro livro necessário nas livrarias: “O outro lado da bola”, do escritor Alvaro Campos, do diretor de cinema Alê Braga e do desenhista Jean Diaz.
Em 214 páginas de história em quadrinhos, a saga de um craque brasileiro homossexual que, como bem observa na orelha o jornalista André Rizek, é uma ficção que provavelmente já aconteceu com o ídolo de seu time ou da seleção.

Cris é o nome do jogador desafiado a enfrentar não apenas os adversários, mas a homofobia.

Mais atual, impossível.

A vida pela bola

Aqui quase um conflito de interesses, porque “A vida pela bola”, do economista Luiz Guilherme Piva, é uma deliciosa coleção de crônicas publicadas no blog do colunista no UOL, empresas do Grupo Folha, que edita a Folha.

Segundo livro de Piva lançado pela editora Iluminuras, deixar de citá-lo para não correr o risco de parecer compadrio seria privar o leitor de textos que trafegam entre a poesia e a nostalgia de um tempo que vivemos ou quisemos viver.

Como escreveu Xico Sá no prefácio, “nenhum outro ponta de lança do texto brasileiro brinca com a ideia de um jogo de bola como Piva”.

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